domingo, 4 de julho de 2021

O manto branco de igrejas

 

Anne Fremantle observa que o termo “gótico” nasceu na Renascença e foi adotado com sentido pejorativo, em referência aos godos bárbaros[1]. O arco ogival no lugar do semicírculo entre as colunas de apoio foi uma invenção dos árabes[2] ou da Índia[3] adotada na Europa em meados do século XII e que permitiu fazer abóbodas muito mais altas.[4] A igreja da abadia de Monte Cassino de uma ordem beneditina é uma das primeiras a usar o arco ogival na Europa. A abóboda estriada é mais antiga no islã do que na Europa.[5] Muitos mestres construtores e pedreiros do Oriente transferiram sua tecnologia para o Ocidente como por exemplo o arquiteto muçulmano Lalys que foi capturado nas Cruzadas e levado para a Inglaterra onde tornou-se arquiteto da Corte de Henrique I. [6] Anne Fremantle destaca que durante o século XI foram construídas 1587 igrejas impulso que as crônicas da época se referem como “a doença de edificar – morbus aedificandi”. O monge de Cluny Raul Glaber em Les cinq livres de ses histoires escreve os três anos que seguiram ao ano mil há uma reconstrução de igrejas: “era como se o próprio mundo se houvesse sacudido, lançado de si a velhice, por toda a parte, com uma roupagem branca de igrejas (manto branco de igrejas)”.[7] Georges Duby identifica na passagem do ano mil a passagem de uma religião ritual e litúrgica segundo a época de Carlos Magno e do mosteiro de Cluny para uma religião de ação que se encarna nos peregrinos de Roma, de Santiago e do Santo Sepulcro e nas cruzadas.[8]



[1] FREMANTLE, Anne. Idade da fé. Biblioteca de História Universal Life. Rio de Janeiro:José Olympio, 1970, p.123

[2] LYONS, Jonathan. A casa da sabedoria, Rio de Janeiro: Zahar, 2011, p.151

[3] GIES, Frances & Joseph. Cathedral, forge and waterwheel, New York: Harper Collins, 1994, p. 131

[4] FREMANTLE, Anne. Idade da fé. Biblioteca de História Universal Life. Rio de Janeiro:José Olympio, 1970, p.121

[5] DURANT, Will. História da Civilização, A idade da fé, tomo II, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1957, p.84

[6] LYONS, Jonathan. A casa da sabedoria, Rio de Janeiro: Zahar, 2011, p.150

[7] FREMANTLE, Anne. Idade da fé. Biblioteca de História Universal Life. Rio de Janeiro:José Olympio, 1970, p.122; DUBY, Georges. O ano mil, Lisboa:Edições 70, 1967, p. 192; FOCILLON, Henri. O ano mil, Lisboa:Estampa, 1977, p. 44, 68; DUBY, Georges. História artística da Europa: Idade Média, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997, p. 45; LACEY, Robert. O ano 1000: a vida no final do primeiro milênio, Rio de Janeiro: Campus,1999, p.153

[8] DUBY, Georges. O ano mil, Lisboa:Edições 70, 1967, p. 223



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