domingo, 4 de julho de 2021

Dialética de Platão

 

Segundo Platão a dialética é o instrumento que possibilita ao filósofo passar das cópias imperfeitas que é o mundo real para os modelos perfeitos do mundo das ideias, abandonando as imagens pelas essências.[1] A dialética tem como ponto de partida a contradição para se buscar, através de raciocínios indutivos, a conciliação. Podemos por exemplo definir um bom político por aquele político que possui carisma. Ao que se poderia contrapor políticos ruins carismáticos. Diante deste contra argumento redefinimos nosso conceito de bom político para o política carismático que se preocupe com seus concidadãos. Ao que poderíamos contrapor políticos que mesmo bem intencionados tiveram uma gestão desastrosa. Nova redefinição do conceito nos leva a definir como política carismático que se preocupe com seus concidadãos e que tenha alcançado resultados positivos. A dialética, portanto, nos leva a uma definição mais exata do conceito que tentamos definir.[2] Na República Platão explica que “a natureza dialética, ou seja, a capacidade de ciência verdadeira, está na visão de conjunto. E esta é, por excelência, a pedra de toque da natureza dialética e da que não o é. Quem sabe ter visão de conjunto é dialético; quem não o sabe, não o é”.[3] Enquanto a matemática penetra na essência inteligível das coisas somente com a dialética seremos capazes de demonstrar as hipóteses formuladas pela matemática, onde tudo ficará esclarecido, saberemos não apenas como as coisas são mas o porque das coisas serem de tal modo, dentro de uma perspectiva teleológica. Para Marco Zingano: “Com a dialética, não há restos, tudo fica esclarecido, inclusive o princípio mesmo de onde se parte”.[4]. Segundo Jostein Gaarder; “Para Platão o grau máximo da realidade está em pensarmos com a razão. Para Aristóteles, ao contrário, era evidente que o grau máximo de realidade está em percebermos ou sentirmos com os sentidos. Platão considera tudo o que vemos ao nosso redor na natureza meros reflexos de algo que existe no mundo das ideias e por, conseguinte na alma humana. Aristóteles achava exatamente o contrário, o que existe na alma humana nada mais é do que o reflexo dos objetos da natureza. Para Aristóteles, Platão foi prisioneiro de uma visão mítica do mundo, que confundia as ideias dos homens com a realidade do mundo”.[5] Para Marco Zingano: “o que marca a resposta de Platão é seu caráter radical: não só chegamos à Ideia Suprema pelo trabalho interno da razão consigo mesma, como o fazemos dando as costas à experiência e ao mundo sensível. No sistema de Platão, essa radicalidade é inevitável porque o que existe realmente, para ele, não são os objetos materiais, mas os objetos ininteligíveis, que as coisas concretas imitam imperfeitamente ”.[6] A dialética é o instrumento que permite que, em um debate de dois contrários manifestando opiniões opostas, se possa chegar à unidade de uma ideia.[7] Segundo Eliane Colchete: “a dialética não é apenas uma argumentação do bom senso, mas é a articulação das ideias entre si a um princípio, permitindo a formulação de uma teoria, que em grego significa contemplação e em sentido platônico é a contemplação das ideias”. [8] Para Garcia Morente: “E então nosso conhecimento, nossa ciência, nossa episteme, em que consiste ? Consiste em elevar-nos por meio da dialética, da discussão, das teses que se contrapõem e se vao depurando na luta de umas contra as outras, para chegar desde o mundo sensível, pela discussão, a uma intuição intelectual desse mundo supra sensível, composto todo ele pelas unidades sintéticas que são as ideias e que ao mesmo tempo constituem a unidade ontológica da significação”.[9] Em Metafísica (IV,3) Aristóteles define que o fundamento de toda a filosofia é o de que existe uma verdade não contraditória a ser alcançada: “é impossível que uma mesma coisa convenha e não convenha ao mesmo tempo a uma mesma coisa e sob a mesma relação”.[10]

[1] CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia, São Paulo: Ática, 2004, p. 186

[2] MASCHIO, E. Platão: a verdade está em outro lugar, São Paulo: Salvat, 2015, p.35

[3] MONDOLFO, Rodolfo. O pensamento antigo v.I. São Paulo:Mestre Jou, 1964, p.219

[4] ZINGANO, Marco. Platão & Aristóteles: o fascínio da filosofia, São Paulo:Odysseus Editora, 2002, p.43

[5] GAARDER, Jostein. O mundo de Sofia, São Paulo: Cia das Letras, 1995, p. 123

[6] ZINGANO, Marco. Platão & Aristóteles: o fascínio da filosofia, São Paulo:Odysseus Editora, 2002, p.49

[7] CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia, São Paulo: Ática, 2004, p. 106

[8] COLCHETE, Eliane; JUNIOR, Luis. A formação da filosofia contemporânea, Rio de Janeiro:Litteris, 2014, p.52

[9] MORENTE, Manuel Garcia. Fundamentos de filosofia: lições preliminares. São Paulo:Mestre Jou, 1970, p.88

[10] MONDOLFO, Rodolfo. O pensamento antigo: desde Aristóteles até os neoplatônicos, São Paulo: Mestre Jou, 1973, p. 19



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Doação de Constantino

  Marc Bloch observa a ocorrência de falsificações piedosas tais como a pseudo doação de Constantino ( Constitutum Donatio Constantini ) ao ...