sábado, 3 de julho de 2021

Alexandre de Gusmão: unindo ciência à politica

 

Jaime Cortesão destaca o papel ilustrado de Alexandre de Gusmão em considerar a ciência dos conhecimentos geográficos e históricos como fundamento para a política, colocando no centro das ações a ciência tal como posteriormente fisiocratas franceses e enciclopedistas franceses, tais como Montesquieu, Turgot e Quesnay se destacariam posteriormente nesta integração entre política e ciência da qual Alexandre Gusmão foi pioneiro: “torna-se necessário situar esse conceito na história das ideias durante o século XVIII para nos darmos conta de quanto ele é novo e contém em si germes revolucionários”.[1] Para auxiliar nessa tarefa de cartografia o governador do Rio de Janeiro contará com auxílio do engenheiro José Fernandes Pinto Alpoim, o governador do Maranhão Pará com o cartógrafo José Gonçalves da Fonseca, o governador de Goiás contará com o suporte de Francisco Tosi Colombina enquanto que o governador de Mato Grosso, Antonio Rolim de Moura é também engenheiro.[2] Estes exemplos mostram que as necessidades de cartografia contribuíram para transformar as Academias Militares em “viveiro de engenheiros, geógrafos e cartógrafos”.[3] Jaime Cortesão[4] mostra que os interesses de D. João V não era o de promover a ciência mas políticos: “Ele não fundara uma Academia de Ciências como a de Paris ou Londres. Mas de História (Academia Real de História Portuguesa em 1720). E, em primeiro lugar, eclesiástica. Não lhe importava, como um fim supremo, a busca da verdade e da explicação científica do universo. Mas a valorização moral do português, nas suas relações com Deus. A astronomia não passava aos seus olhos dum instrumento de expansão do seu Império e da sua Fé, bases transcendentes e incomparáveis do seu trono de monarca absoluto”. Deste movimento, posteriormente Alexandre de Gusmão funda uma escola de astronomia aplicada à geografia e cartografia trazendo da Itália o professor Miguel Ciera [5] que chegou em Lisboa em 1751 como um dos mestres renovadores dessa cultura que formaria vários portugueses e brasileiros que teriam um papel importante na execução do Tratado de Santo Ildefonso em 1777.[6] Na análise de Jaime Cortesão: “polígrafo, de aptidões múltiplas e curiosidades inesgotáveis Alexandre de Gusmão entregou-se, como os grandes espíritos do Renascimento e das épocas renovadoras, em geral, a todas as preocupações da sua época. O seu discurso de entrada na Real Academia é uma obra prima no gênero, que só por si, anuncia um historiador, animado pelo mais avançado espírito do seu tempo. Homem de ciência, apaixonado pela filosofia experimental e o conhecimento das leis da Natureza, nas suas relações com a política, promove por todos os meios o estudo da geografia da América do Sul e ele próprio funda nesses novos conhecimentos e compreensão geopolítica da divisão das soberanias e dos Estados no continente”.[7]

[1] CORTESÃO, Jaime. Alexandre Gusmão e o Tratado de Madrid, v.II, São Paulo: Funag, 2006, p.152

[2] CORTESÃO, Jaime. Alexandre Gusmão e o Tratado de Madrid, v.I, São Paulo: Funag, 2006, p.320

[3] CORTESÃO, Jaime. Alexandre Gusmão e o Tratado de Madrid, v.I, São Paulo: Funag, 2006, p.291

[4] CORTESÃO, Jaime. Alexandre Gusmão e o Tratado de Madrid, v.I, São Paulo: Funag, 2006, p.292

[5] COSTA, Maria de Fátima. Miguel Ciera: um demarcador de limites no interior sul-americano (1750-1760), Estudos de Cultura Material, An. mus. paul. 17 (2), Dez 2009  https://www.scielo.br/j/anaismp/a/W8FJKFt8dySXVxmvcrJTrNB/?lang=pt

[6] CORTESÃO, Jaime. Alexandre Gusmão e o Tratado de Madrid, v.II, São Paulo: Funag, 2006, p.398

[7] CORTESÃO, Jaime. Alexandre Gusmão e o Tratado de Madrid, v.II, São Paulo: Funag, 2006, p.446



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