sábado, 3 de julho de 2021

Expansão territorial do Brasil delimitada pelo avanço bandeirante ou pela geografia natural ?

 

Em 1952, o historiador português Jaime Cortesão foi nomeado para dirigir a organização da “Exposição Histórica de São Paulo dentro do quadro histórico do Brasil”, no âmbito das comemorações do IV Centenário da fundação da cidade de São Paulo (1954-1955) em que legitima o mito bandeirante.[1] Apesar da coragem bandeirante os marcos territoriais do Brasil tiveram como delimitação principalmente questões naturais geográficas do que propriamente o avanço bandeirante cujo número reduzido de homens não conseguiria justiçar a presença no Brasil meridional de forma tão ampla: “que algumas bandeiras, por vezes reduzidas a um número muito exíguo de homens tenha atravessado, nas duas direções esses obstáculos, prova apenas a têmpera sobre humana desses pioneiros. Trata-se de exceções, cujo esforço titânico excede a craveira comum e, por isso mesmo, justificam  que a formação territorial estacasse (firmasses suas estacas) à volta desses grandes marcos naturais”.[2] Para Jaime Cortesão a bandeira foi o resultado da fusão de uma ideia força que integrava o sentimento expansionista português com o conceito de “ilha Brasil” já presente entre os índios, segundo o qual haveria uma comunicação entre os rios Madeira e Guaporé através de uma lagoa chamada Eupana, de modo que o Brasil seria uma ilha continente formada pelo encontro dos dois grandes rios Amazonas e e Prata fragmentada por rios como o São Francisco. Havia, portanto, uma bandeira oficial que se radicou no Amazonas e uma segunda bandeira livre cujo foco foi São Paulo. Segundo o depoimento do padre Simão de Vasconcelos (1597-1671): “Contam os índios versados no sertão que bem no meio dele são vistos darem-se as mãos estes dois rios o Amazonas e o Prata em uma lagoa famosa”.[3] Demétrio Magnoli desenvolve a noção de ilha-Brasil, o espaço mítico em que se inscrevia a formação do território como um importante eixo estruturador da história brasileira[4]. Alexandre Gusmão cita o livro “Provas da História Genealógica da Casa Real Portuguesa” em que se refere a crença de muitos geógrafos da época de que o Brasil fosse envolvido pelo Prata e o Amazonas para justificar sua tese de “fronteiras naturais” nos acordos para o Tratado de Madrid.[5] Segundo Jaime Cortesão: “aquela preciosa referência ao que temos chamado o mito da ilha Brasil deixa-nos seguir, assim, o processo mental, que o levava a conceber uma nova ilha, bem mais real, orgânica e viável que a primeira. Essa nova ilha dos limites naturais tinha a vantagem de atender conjuntamente às realidades geográficas e às realidades humanas e históricas que se opunham ao condomínio do estuário platino e aconselhavam um compromisso e partilha entre as bacias do Prata e do Amazonas

[1] ALVES, Daniel Vecchio. Reconsiderações Historiográficas sobre a Teoria do Sigilo de Jaime Cortesão. Revista Expedições, Morrinhos/GO, v. 9, n. 3, mai./ago. 2018

[2] CORTESÃO, Jaime. Alexandre Gusmão e o Tratado de Madrid, v.II, São Paulo: Funag, 2006, p.382

[3] CORTESÃO, Jaime. Alexandre Gusmão e o Tratado de Madrid, v.II, São Paulo: Funag, 2006, p.143

[4] MAGNOLI, Demétrio. O corpo da Pátria imaginação geográfica e política externa no Brasil. São Paulo: Ed. Unesp, 2007

[5] CORTESÃO, Jaime. Alexandre Gusmão e o Tratado de Madrid, v.II, São Paulo: Funag, 2006, p.390



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