sábado, 24 de julho de 2021

O lucro no comércio pimenta

 

A conquista de Constantinopla pelos turcos otomanos em 1453 fez com que Veneza obtivesse deles o monopólio do comércio das especiarias para a Europa. Com a expansão otomona os pedágios cobrados para o transporte de especiarias elevaram em torno de 800% o custo pelas rotas tradicionais.[1] A pimenta vendida a três cruzados o quintal na Índia, era comercializada no Egito a oitenta cruzados e a muito mais em Veneza. O preço da pimenta que na Índia era de dois cruzados ou três cruzado o quintal multiplicava-se por trinta ou quarenta antes de passar às mãos dos venezianos. Um estudo do século XV mostra que o plantador indiano recebia  1 a 2 gramas de prata  por um quilo de pimenta. Em Alexandria no Egito o preço chegava a 10 a 14 gramas, em Veneza de 14 a 18 e em Londres entre 20 e 30 gramas de prata, ou seja, multiplicava-se em trinta vezes o valor na Índia.[2] Em Lisboa era vendida a 40 ducados. Em 1503 a esquadra de Vasco da Gama trazia para Lisboa 36 mil quintais de especiarias como pimenta, canela, gengibre e noz moscada além de pedras preciosas e pérolas. [3] Roberto Simonsen estima que a pimenta da Índia era comercializada no mercado de Antuérpia por um preço vinte vezes superior o seu custo no país de origem[4]. As notas rotas comerciais pelo Atlântico conduziram à ativação econômica da região de Flandres em concorrência as tradicionais rotas terrestres pelo Levante controlada pelos venezianos.[5] Em Lisboa a pimenta era vendida de dez a quinze vezes o preço do produto na Índia, o que garantia enormes lucros aos portugueses[6]. A conquista da nova rota comercial com as Índias conquistada pelos portugueses fizeram baixar muito o preço das especiarias na Europa, em especial a pimenta[7], muito embora seja um erro imaginar que a rota de especiarias através do Egito e Arábia tenha cessado abruptamente.[8] Em 1503 o preço da pimenta em Lisboa era apenas um quinto do de Veneza[9]. Erasmo envia carta ao rei português queixando-se das elevadas taxas de lucro no comércio da pimenta[10].

[1] AQUINO, Fernando, Gilberto, Hiran. Sociedade brasileira: uma história, São Paulo: Record, 2000, p.87

[2] KRONDL, Michael. O sabor da conquista. Rio de Janeiro: Rocco, 2008, p. 23

[3] VASCONCELLOS, Ernesto; GAMEIRO, Alfredo; MALHEIROS, Carlos. In: História da Colonização Portuguesa no Brasil, Edição Monumental Comemorativa do Centenário de Independência do Brasil, Porto, Litografia Nacional, 1921, Primeira Parte: O descobrimento, V.1 Os precursores de Cabral, p. CXXVI

[4] SIMONSEN, Roberto. História Econômica do Brasil, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1962, p.39

[5] FURTADO, Celso, Criatividade e dependência, Rio de Janeiro:Paz e Terra, 1971, p. 140

[6] FURTADO, Celso, Criatividade e dependência, Rio de Janeiro:Paz e Terra, 1971, p. 138

[7] COSTA, Sergio Correa da. Brasil, segredo de Estado, São Paulo:Record, 2001, p. 72

[8] CAMERON, Rondo. A concise economic history of the world, New York:Oxford University Press, 1998, p.121

[9] BOORSTIN, Daniel. Os descobridores, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1989, p.171

[10] FURTADO, Celso, Criatividade e dependência, Rio de Janeiro:Paz e Terra, 1971, p. 139





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