sábado, 24 de julho de 2021

O futurismo e a crença no progresso em Roger Bacon (século XII)

 

Para Roger Bacon “quatro são os obstáculos que embaraçam os estudiosos: o exemplo da autoridade frágil e imerecedoura, o costume estabelecido, o senso da turba ignorante e a dissimulação da própria ignorância a pretexto da sabedoria. Nesses obstáculos não há homem ou estado que não esbarre”.[1] Para Roger Bacon a magia não é nada “porque o espírito humano tudo pode servindo-se da natureza”[2], a técnica que usa a natureza como instrumento pode aumentar e multiplicar tais forças da natureza - ars utens natura pro instrumento, potentior est virtue naturali.[3] Em suas observações astronômicas Roger Bacon prefere não se basear unicamente nos sentidos “pois estes são muitas vezes falhos, principalmente por efeito de uma grande distância”.[4] Para Roger Bacon o homem sem o auxílio da revelação divina jamais poderia alcançar o conhecimento das ciências, pois somente a revelação será capaz de clarear um caminho que foi obscurecido ao homem devido à sua malícia[5]. Para Charles Singer, Roger Bacon estava muito afrente de seu tempo e seus fundamentos eram a observação e experimentação, com trabalhos em óptica astronomia, geografia, ciência mecânicas, química e matemática.[6] Em Opus Maius Roger Bacon se refere ao que possivelmente trata de fogos de artifícios, na época conhecidos apenas na China, o que segundo Joseph Needham poderia ter sido possível por intermédio de algum amigo missionário, talvez William de Rubruck.[7]  Roger Bacon em uma de suas cartas Epistola de secretis operibus artis et naturae et nullitate magiae e em De mirabili potestate artis et naturae libellus manifesta sua confiança no progresso: “Os navios se movimentarão sem remos, e com um homem apenas para guia-los. Carros sem cavalos viajarão com incrível velocidade. Podem-se fazer máquinas de voar com capacidade para um homem em que asas habilmente construídas baterão á maneira dos pássaros. Máquinas haverão que levantarão pesos infinitamente grandes e pontes engenhosas cruzarão os rios sem apoio algum”.[8]

[1] STEVERS, Martin. A inteligência através dos séculos. São Paulo:Globo, 1946, p.411

[2] MICHELET, Jules. A agonia da idade média, São Paulo: EDUC, 1992, p. 52

[3] BONILLA, Luis. Breve historia de la técnica y del trabajo, Madrid:Ed. Istmo,1975, p.152

[4] TATON, René. A ciência antiga e medieval: a Idade Média, tomo I, v.III, São Paulo:Difusão, 1959, p. 130

[5] COSTA, José Silveira da. A escolástica cristã medieval, Rio de Janeiro, 1999, p.96

[6] SINGER, Charles. From magic to science. New York:Dover, 1958, p.92

[7] GIES, Frances & Joseph. Cathedral, forge and water wheel, New York:Harper Collins, 1994, p.206

[8] CAMP, L. Sprague de. The ancient engineers, New York: Ballantine Books, 1963, p. 348; STEVERS, Martin. A inteligência através dos séculos. São Paulo:Globo, 1946, p.411; TATON, René. A ciência antiga e medieval: a Idade Média, tomo I, v.III, São Paulo:Difusão, 1959, p. 125; KLEMM, Friedrich, A history of western technology, London:Ruskin House, 1959, p. 95; COELHO, Latino. A ciência na idade média, Lisboa:Guimarães Editores, 1988, p.29; CANTU, Cesare. História Universal, volume XIV, São Paulo:Editora das Américas, 1955, p. 374; FREMANTLE, Anne. Idade da fé. Biblioteca de História Universal Life. Rio de Janeiro:José Olympio, 1970, p.150; JUNIOR, Hilário Franco. A idade média nascimento do Ocidente. São Paulo:Brasiliense, 1986, p. 177; NUNES, Ruy Afonso da Costa. História da educação na idade média, Campinas:Kirion, 2018, p.298; GOFF, Jacques. Maravilhoso. In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean Claude. Dicionário analítico do Ocidente medieval. v.II, São Paulo:Unesp, 2017, p. 135; MORTIMER, Ian. Séculos de transformações. Rio de Janeiro:DIFEL, 2018, p. 1022



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