segunda-feira, 12 de julho de 2021

O hermetismo em Francis Bacon

 

Philip Fanning argumenta que Francis Bacon (1561-1626) era discípulo do alquimista John Dee, embora em nenhum de seus textos faça referência a ele ou sua obra Monas Hieroglyphica, de modo que sua obra disfarça a filosofia rosacruz de seu mestre. Dos alquimistas Francis Bacon declara: “os alquimistas com sua atividade fizeram algumas descobertas, mas como que por acaso e pela variação dos experimentos (como fazem com frequência os mecânicos), não por arte e com método, e isso porque a sua atividade tende mais a confundir os experimentos do que a estimulá-los. Mesmo aqueles que se dedicaram à chamada magia natural fizeram algumas descobertas, mas poucas em número e sobretudo superficiais e frutos da impostura [...] Quem , ainda, se disponha a considerar aquelas coisas tidas mais por curiosas que sérias e passe a examinar mais a fundo as obras dos alquimistas, acabará não sabendo se estes são mais dignos de riso ou de lágrimas”.[1] Ainda assim Francis Bacon reconhece que nos meios dos escritos e experimentos tidos como supersticiosos e mágicos (no sentido vulgar da palavra) se possa encontra algo de útil para ciência: ”ainda que se trate de coisas recobertas de uma pesada massa de mentiras e fábulas, mesmo assim devem ser observadas para se verificar, mesmo por acaso, alguma operação natural”.[2] Para Francis Bacon: “a melhor demonstração é de longe, a experiência, desde que se atenha rigorosamente ao experimento”[3]. Francis Bacon conta a história: “de um homem que contou a seus filhos que havia deixado ouro enterrado em algum lugar em sua vinha. Onde os filhos cavaram nada encontraram, mas ao revolverem a terra das raízes de suas vinhas conseguiram uma colheita produtiva. Assim é a busca e o empreendimento dos alquimistas  que em sua busca de ouro nos trouxeram muitas e inúmeras invenções e instrutivos experimentos”.[4] Para Philip Fanning os ataques de Francis Bacon contra a alquimia eram dissimulados, mas acabaram contribuindo para sua destruição.[5] Esta perspectiva de identificação de Francis Bacon com o hermetismo esteve presente na historiografia das décadas de 1950, porém foi contestada por autores como Paolo Rossi destacam que as referências contrárias ao esoterismo são inúmeras para serem dissimuladas[6]

[1] BACON, Francis. Novum Organum, Sâo Paulo: Abril, Os pensadores, 1973, p. 49, 59

[2] BACON, Francis. Novum Organum, Sâo Paulo: Abril, Os pensadores, 1973, p. 159

[3] BACON, Francis. Novum Organum, Sâo Paulo: Abril, Os pensadores, 1973, p. 44

[4] GIES, Frances & Joseph. Cathedral, forge and waterwheel, New York: Harper Collins, 1994, p. 162

[5] FANNING, Philip. Isaac Newton e a transmutação da alquimia, Santa Catarina:Danúbio, 2016, p. 222

[6] ROSSI, Paolo. Francis Bacon: da magia à ciência. Curitiba:Ed. UFPR, 2006, p.105



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