segunda-feira, 12 de julho de 2021

As habilidades técnicas dos escravos

 

Entre os escravos artesãos são mencionados os especializados em carapina, ferreiro, calafate e faleiro.[1] Carapinas trabalham com a seleção e corte de madeira nos matos e no seu desbaste mais grosseiro para que possam ser trabalhadas pelos carpinteiros[2]. Nos ofícios artesanais eram encontrados indivíduos livres, libertos e cativos, sejam brancos, pardos ou negros, sendo no século XVII crescente a participação de negros e mulatos livres como artesãos[3], o que revela o trabalho como meio de ascensão social: “o status ocupacional proporcionava aos que não eram brancos um meio de ascender socialmente, além de remunerações muito superiores ás que poderiam esperar receber como trabalhadores sem especialização; ainda assim , as graduações de raça e cor e os preconceitos a ela associados não eram totalmente ignorados”.[4] Em Reflexões sobre a capitania de Minas Gerais de 1818 Antonio da Costa Rocha ao falar dos pardos os descreve como ocupando lugares de pouca honra e de pouco interesse “os oficiais mecânicos se encontra entre eles, pois que os branco abandonaram aqueles ofícios”.[5] Spix e Martius assinalam que conheceram no Rio de Janeiro “entre os naturais, são os mulatos que manifestaram maior capacidade e diligência para as artes mecânicas; até se nota entre eles extraordinário talento para a pintura”.[6] Gilberto Freyre ao examinar os jornais da capital no século XIX sobre anúncios de escravos fugidos registra as principais ocupações: entre os homens: catraeiro, lenhador, talhador de carne, carreiro, sapateiro, padeiro, pescador, sangrador, cozinheiro, cambiteiro, alfaiate, caiador, carpina, marceneiro, pajem. Entre as mulheres: engomadeira, lavadeira, costureira, doceira, ama-de-leite, marisqueira, enfermeira, mucama[7].

[1] SCHWARTZ, Stuart. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial. São Paulo: Cia das Letras, 1988, p. 69

[2] MENESES, José Newton. Os alambiques, a técnica da produção da cachaça e seu comércio na América portuguesa. In: BORGES, Maria Eliza. Inovações, coleções, museus. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2011, p.137

[3] SCHWARTZ, Stuart. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial. São Paulo: Cia das Letras, 1988, p. 261, 273

[4] SCHWARTZ, Stuart. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial. São Paulo: Cia das Letras, 1988, p. 268

[5] RODRIGUES, José Honório. História da história do Brasil, São Paulo: Cia Editora Nacional, 1979, p.186

[6] LIMA, Heitor Ferreira, Formação Industrial do Brasil, período colonial, Rio de Janeiro: ED. Fundo de Cultura, 1961, p. 266

[7] FREIRE, Gilberto. O escravo nos anúncios de jornais brasileiros do século XIX, Brasialan v. 370, São Paulo: Ed. Nacional, 1979, p. 44



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