Edward
Burns aponta que da questão iconoclasta lançada pelo imperador Leão III em 725
ao proibir o uso de imagens nos templos, havia entre as razões a disputa de
imperadores reformistas contra o poder dos monges que auferiam ganhos com a
manufatura e venda de ícones, contando com apoio dos que denunciavam tais
práticas como uma corrupção dos ideais cristãos.[1] Por volta do ano 600, o papa Gregório Magno e em 794 no Concílio de Frankfurt se
manifestaram contra uma adoração exagerada das imagens, ao mesmo tempo em que
reconheceram sua utilidade educativa. Em uma carta ao bispo Sereno de Marselha
em 600 Gregório Magno reprova a destruição de imagens e lembra que elas servem
para lembrar as histórias sagradas, suscitam o arrependimento dos pecadores e
instruem os iletrados.[2] Segundo o Sínodo de Arras em 1025: “as
almas simples e iletradas não podem conhecer a escritura ensinada nas igrejas;
eles a conhecem por meio das imagens”.[3] Um século mais tarde Bernardo de Claraval exortva os bispos a “excitar por meio de imagens sensíveis a
devoção carnal do povo quando não pudessem fazê-lo por meio de imagens
espirituais”.[4] Segundo
Henrich van der Loon: “A arte da idade
média era o livro de figuras dos que não podiam ler. Todo quadro, toda obra de
escultura, todo manuscrito ornado de iluminuras, toda tapeçaria eram criados
com o único intuito de familiarizar a massa analfabeta com os episódios da
sagrada escritura”.[5] Georgs Duby destaca que à exceção dos homens da Igreja, ninguém mais naquela
época sabia le[6]. Para
Georges Duby: “Não se esperava dessas imagens que conduzissem ao divino pela
inteligência, mas pela sensibilidade, que elas exaltam. Imagens de ternura, e por isso femininas: inumeráveis estátuas de santas, amáveis,
compassivas; a Virgem com o Menino, em toda a parte, adornada, maternal,
amamentando; o leite, o seio de Maria – invenções iconográficas destinadas a
mexer com as fibras mais obscuras do inconsciente: volta à infância; o olhar
desliza para o que há de mais enternecedor na humanidade de Deus: o Menino
Jesus”.[7] No
ano 600, segundo o papa Gregório Magno “as
pinturas podem representar para os analfabetos o que representam os escritos
para os que sabem ler”.[8] Robert Fossier, contudo, observa que as ricas iluminuras como as Très riches heures de Jean duc de Berry de
1410 estavam longe do alcance de um público mas amplo sendo objeto restrito a
colecionadores.[9] Victor Hugo dirá que as catedrais medievais eram verdadeiros “livros de pedra” em que os fieis
poderiam se instruir.[10]
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