A alma busca
encontrar as ideias porque as contemplou no mundo da verdade eterna antes de
ter encarnado.[1] Usando deste método Platão menciona uma cena em que Sócrates extrai de um jovem
escravo por meio de perguntas, o reconhecimento de uma verdade geométrica.[2] A
maiêutica socrática tem como significado “dar à luz”, “parir” o conhecimento (maîa,
em grego, “parteira”) e pressupõe que "a verdade está latente em todo ser
humano, podendo aflorar aos poucos na medida em que se responde a uma série de
perguntas simples, quase ingênuas, porém perspicazes". Sócrates dizia ter
herdado da mãe que era parteira de profissão a habilidade de fazer parir, não
sobre corpos, mas sobre o espírito[3]. Se
alguém pergunta: “o que é justiça ?”, Sócrates responde com outra pergunta
do seu contrário: “como você se sente injustiçado ?”. O interlocutor
responde: “quando me castigam sem que eu mereça”. Sócrates então prossegue:
“mas quando você não merece ser castigado ?“, ou seja, ele pergunta
quando esta situação não ocorre, ao que o interlocutor responde: “quando eu
faço o que é correto”. Assim Sócrates levou seu interlocutor a chegar à
definição de justiça. Segundo Platão no Teetetos: “nenhuma das parteiras
assiste as parturientes quando ela mesma se encontra grávida [..] Toda a minha
arte de obstetra é semelhante a essa mas difere enquanto se aplica aos homens e
não as mulheres e relaciona-se com as almas da s partuirientes e não com os
corpos. Sobretudo na nossa arte há a seguinte particularidade: que se pode
averiguar por todo meio se o pensamento do jovem vai dar à luz a algo de
fantástico e de falso ou de genuíno e verdadeiro [,,,] Deus obriga-me a agir
como obstetra porém veda-me de dar a luz”, cabe portanto ao aluno que ouve
o filósofo, dar a luz a verdade. Prossegue Platão: “E eu, pois, não sou
sábio, nem posso mostrar nenhuma descoberta minha, gerada por minha alma; mas
os que me frequentam a princípio ignorantes; mas depois, adquirindo
familiaridade, como assistidos pelo deus, ontem proveito grande, como parece a
eles próprios e aos outros. E não obstante é manifesto que nada aprenderam
comigo, mas encontraram por si mesmos, muitas e belas coisas, que já possuíam”.[4] No Menon, Platão confirma que cabe ao filósofo fazer as perguntas
certas a seu aluno para que este sozinho alcance as respostas que estavam
sempre dentro de si: “Portanto, possui realmente ciência se a extrai de si
mesmo interrogando-o, e sem que ninguém o ensine”
[1] MONDOLFO, Rodolfo. O
pensamento antigo: desde Aristóteles até os neoplatônicos, São Paulo: Mestre
Jou, 1973, p. 248
[2] WILLIAMS, Bernard. Filosofia, In: FINLEY, Moses. O legado da Grécia,
Brasília: UNB, 1998, p. 262
[3] MASCHIO, E. Platão: a verdade está em outro lugar, São Paulo: Salvat, 2015, p.35
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