sábado, 10 de julho de 2021

As primeiras fábricas no Brasil: por iniciativa de portugueses

 

Com a vinda da família real ao Brasil em 1808 a Junta Comercial recebeu de fato pedidos de instalação de fábricas, porém em sua maioria de portugueses, como os pedidos de Joaquim José da Silva para uma fábrica de estamparia que devido a invasão francesa não pode ser instalada em Lisboa e veio a se instalar no Rio de Janeiro, e em 1812 de Francisco Wallis para o fabrico de lanifícios e José Moreira Guimarães para uma fábrica de seda.[1] Em 1808 o príncipe regente ao chegar à Bahia recebeu pedido do negociante português Francisco Ignácio Siqueira Nobre para autorização para viajar a Londres para contração de dois operários e construção de uma fábrica.[2] Apesar da defesa do liberalismo econômico o relatório de 1815 do cônsul inglês Lindeman revela sua preocupação de que a fábrica levasse a redução sensível da venda de vidros ingleses e não hesita em revelar seus esforços bem sucedidos para que um dos dois artífices trazidos retornasse à Inglaterra (o outro morrera).[3] Em 1812, foi inaugurada a Real Fábrica de Vidros da Bahia, aos moldes da Real Fábrica da Marinha Grande, de Portugal. Em 1814, a fábrica foi transferida para a cidade de Senhor do Bonfim. As instalações da fábrica totalmente destruídas pelas tropas do General Madeira de Melo, durante uma das batalhas pela independência do Brasil, tendo sido reinaugurada em 1825 [4]. Em 1831 os membros do Conselho Geral de Minas Gerais se apresentaram vestidos com tecidos produzidos naquela província, o que mereceu o elogio do presidente Manoel Inácio de Melo e Sousa, barão de Pontal. O jornalista Cipriano Barata e o revolucionário pernambucano de 1817 Pires Ferreira só se vestiam com fazenda de algodão produzido no Brasil e só usavam chapéus de palha de carnaúba. Segundo Otávio Tarquínio de Sousa: “Cipriano transitava naquela Lisboa cheia de influências francesas e inglesas com roupas de algodão tecidas no Brasil, sapatos de bezerro sem tinta, chapéu de palha e um tosco bengalão”.[5] Em 1825 Gervásio Pires mesmo caluniado e acusado de cúmplice de uma rebelião, e destituído de toda a proteção Real, ainda assim fundou uma das maiores fábricas de tecido de sua época na Boa Vista para descaroçar, fiar e tecer algodão com 21 teares onde trabalhavam 50 escravos para produção de cobertores[6].

[1] HEYNEMANN, Cláudia Beatriz. As engrenageens da história: documentos do Arquivo Nacional para os 180 anos de industrialização no Brasil, In: Sistema FIRJAN: 180 anos da indústria brasileira de 1827 ao século XXI, 2007, p.85

[2] CALMON, Pedro. História da civilização brasileira, Brasília: Senado Federal, 2002, p. 115

[3] SILVA, Maria Betariz Nizza. A primeira Gazeta da Bahia: idade do ouro do Brasil, Salvador: EDUFBA, 2011, p.144

[4] História do vidro no Brasil. Jornal do Vidro, 2015 https://www.jornaldovidro.com.br/single-post/2015/10/20/Hist%C3%B3ria-do-Vidro-no-Brasil-parte-1

[5] SODRÉ, Nelson Werneck. A história da imprensa no Brasil, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966, p. 77

[6] LIMA, Heitor Ferreira. História Político econômica e industrial do Brasil, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1970, p. 207



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