quarta-feira, 14 de julho de 2021

A tomada de Ceuta e o mito em torno de D. Henrique

 

Keila Araújo[1] mostra como a tomada de Ceuta foi descrita de forma laudatória pelo cronista-mor do reino, Gomes Eanes de Zurara, na década 1450, pelo rei D. Afonso V na obra Cronica da Tomada de Ceuta por el rei D. João I. Faria de Souza por sua ao escrever no período da União Ibérica (1580-1640) creditou o esforço marítimo do empreendimento a D. Henrique ao invés da Coroa portuguesa. No século XIX Oliveira Martins realçou o valor da expansão ultramarina em uma perspectiva nacionalista. Uma visão mais crítica pode ser observadores na historiografia do século XX. Charles Boxer a conquista de Ceuta, em 1415, foi mais representativa pela permanência dos lusitanos na região, do que propriamente pela conquista. Foi somente em 1419 com a informação sobre a possibilidade de chegar as áreas produtoras de ouro, que teria animado a convocação de novas expedições. O eixo de interpretação deixa de ser uma perspectiva ufanista para incluir a interação de interesses religiosos e possibilidade de ampliação de mercados. e John K. Thorton em “Os portugueses em Àfrica” (2010) relativizou o papel de marco expansionista da cidade de Ceuta na medida em que o objetivo da tomada de Ceuta teria sido a presença europeia na região do “Mar pequeno”, porção do Atlântico contínuo ao território português. Luís Miguel Duarte, em “Ceuta, 1415:seiscentos anos depois” (2105) mostra o papel da narrativa laudatória da tomada de Ceuta na construção do mito em torno de D. Henrique. Russel Wood comenta que o Infante D. Henrique ficou erroneamente conhecido como “o Navegador”.[2] A representação do infante D. Henriques que aparece afrente do Padrão dos Descobrimentos em Lisboa o mostra com seu chapéu característico tal como se encontra em um dos painéis de São Vicente, encontrados em 1882 no Mosteiro de S. Vicente de Fora, em Lisboa. As pinturas, possivelmente tratam-se de autoria de Nuno Gonçalves (1438-1481), pintor do rei D. Afonso V, entre 1450 e 1472.



[1] ARAÚJO, Keila. A Construção e desconstrução de um símbolo: leituras sobre a conquista de Ceuta, Historia & Parcerias, ANPUH, 2019, https://www.historiaeparcerias2019.rj.anpuh.org/anais/trabalhos/apresentacaoemst#K

[2] RUSSEL WOOD. A. Histórias do Atlântico português, São Paulo: Unesp, 2021, p.28



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