Keila Araújo[1] mostra como
a tomada de Ceuta foi descrita de forma laudatória pelo cronista-mor do reino,
Gomes Eanes de Zurara, na década 1450, pelo rei D. Afonso V na obra Cronica
da Tomada de Ceuta por el rei D. João I. Faria de Souza por sua ao escrever
no período da União Ibérica (1580-1640) creditou o esforço marítimo do
empreendimento a D. Henrique ao invés da Coroa portuguesa. No século XIX
Oliveira Martins realçou o valor da expansão ultramarina em uma perspectiva
nacionalista. Uma visão mais crítica pode ser observadores na historiografia do
século XX. Charles Boxer a conquista de Ceuta, em 1415, foi mais representativa
pela permanência dos lusitanos na região, do que propriamente pela conquista. Foi
somente em 1419 com a informação sobre a possibilidade de chegar as áreas
produtoras de ouro, que teria animado a convocação de novas expedições. O eixo
de interpretação deixa de ser uma perspectiva ufanista para incluir a interação
de interesses religiosos e possibilidade de ampliação de mercados. e John K.
Thorton em “Os portugueses em Àfrica” (2010) relativizou o papel de
marco expansionista da cidade de Ceuta na medida em que o objetivo da tomada de
Ceuta teria sido a presença europeia na região do “Mar pequeno”, porção do
Atlântico contínuo ao território português. Luís Miguel Duarte, em “Ceuta,
1415:seiscentos anos depois” (2105) mostra o papel da narrativa laudatória
da tomada de Ceuta na construção do mito em torno de D. Henrique. Russel Wood
comenta que o Infante D. Henrique ficou erroneamente conhecido como “o
Navegador”.[2] A representação do infante D. Henriques que aparece afrente do Padrão dos Descobrimentos
em Lisboa o mostra com seu chapéu característico tal como se encontra em um dos
painéis de São Vicente, encontrados em 1882 no Mosteiro de S. Vicente de Fora,
em Lisboa. As pinturas, possivelmente tratam-se de autoria de Nuno Gonçalves
(1438-1481), pintor do rei D. Afonso V, entre 1450 e 1472.
[1] ARAÚJO, Keila. A Construção e desconstrução de um símbolo: leituras sobre a
conquista de Ceuta, Historia & Parcerias, ANPUH, 2019, https://www.historiaeparcerias2019.rj.anpuh.org/anais/trabalhos/apresentacaoemst#K
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