sábado, 17 de julho de 2021

A medicina trazida pelos escravos

 

Entre os negros Ossãe é a entidade das folhas medicinais e litúrgicas.[1] Segundo um ditado iorubá: "Sem folha não há orixá, não há o Axé!". Xangô, Reio de Oyó (um dos reinos iorubás), orixá do fogo e do trovão[2], achando que todos deveriam ter o conhecimento das ervas, pediu à Iansã, Senhora dos ventos, que convencesse Ossãe a dividir com os demais Orixás os mistérios e os segredos do uso da planta. Ela, por sua vez partiu para a floresta, sacudiu sua saia e fez gerar uma forte ventania, espalhando as folhas por todo o reino de Oyó. Ossãe ironicamente comentou, certa de ter seu segredo preservado: “De que adianta as folhas, sem o segredo? De que adianta possuir a erva, sem o mistério? De que adianta possuir o ingrediente mágico, sem o poder de gera a magia?”.[3] Segundo Emília Viotti: “o escravo vivia num mundo mágico hostil que procurava dominar à custa da magia. Daí o prestígio que gozava o feiticeiro, respeitado e temido por todos, curando males do corpo e do espírito e mal de amor. Com remédios de ervas e palavras mágicas curava desde picada de cobra até bicheira de animal, intoxicações ou bronquites. Mesmo os brancos serviam-se deles”.[4]



[1] CARISE, Iracy. A arte negra na cultura brasileira, Rio de Janeiro:Artenova, 1980, p.56

[2] GOMES, Laurentino. Escravidão, v.II, São Paulo: Globo, 2021. p.194

[3] http://mariapadilhadasalmas.no.comunidades.net/historia-de-ossae

[4] COSTA, Emília Viotti da. Da senzala à colônia, São Paulo:Unesp, 1998, p. 303



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