Se um
alquimista descobrisse um processo com perspectivas de ser bem sucedido, ele
submetia as mesmas substâncias centenas de vezes ao mesmo processo antes de se
chegar ao resultado final. O processo de retornar um destilado ao seu resíduo e
submetê-lo novamente a destilação era chamado de cohobation. Em 1167 o médico Salernus da cidade de Salerno descobriu
o processo de destilação do álcool.[1] A “água”
que se formava no processo compartilhava propriedades que mais se opunham à
água, similares ao fogo na medida em que era uma “água” que queimava, tal como
um combustível, denominada “água ardente”. Coube a Paracelso denominá-la de
“álcool”, uma referência ao antigo termo egípcio “Kohl” que significava
qualquer substância de grande volatividade.[2] Uma
tradição não comprovada atribui a al Razi
o pioneirismo no uso medicinal do álcool.[3] A
palavra álcool (al kohol) significa “tudo aquilo que é muito fino”.[4] Lydia
Mangold afirma que Raimundo Lulio como alquimista trabalhou na destilação do
álcool que denominava de anima coelica,
mercurius vegetabilis e conseguiu
obter carbonato de amônia pela destilação da urnia, sendo pioneiro na
preparação de tinturas e essências refinadas.[5] Fernand
Braudel, por sua vez, atribui como fantasia a versão de que o álcool teria sido
primeiramente realizada por Raimundo Lulio morto em 1315, pois em cerca de 1100
a escola de medicina de Salerno na Itália já teria conhecimento da destilação[6]. No
século seguinte Taddeo Alderotti descobre a destilação fracionada do álcool
conseguindo o produto com 90% de pureza. A partir do século XII a purificação
do álcool é mencionada com frequência por alquimistas como Ramón Lullio e
Arnald Villanova.[7] Menéndez Lelayo afirma que Arnaud Villanova é equivocadamente tratado como
praticante de alquimia medieval.[8] Arnald
de Villanova havia obtido o álcool no século XIV o qual denominou de spiritus
vini (em inglês spirits é um nome genérico para destilados), a qual Paracelso (na figura) passou a denominas de alcohol seguindo a origem árabe al kuhl , referente a um
pó metálico obtido por sublimação usado para colorir as pálpebras[9]. Lynn
White observa que a destilação por muito tempo considerada invenção dos povos
muçulmanos agora é considerada invenção da Europa Ocidental. [10] O texto
medieval Mappae Clavicula ou “Uma pequena chave para o desenho” constituía
uma compilação de tratados alquímicos de Alexandria, o qual Berthelot acredita
conter uma das mais antigas referências a destilação do álcool[11].
[1] DERRY, T.; WILLIAMS,
Trevor. Historia de la tecnologia: desde la antiguidade hasta 1750,
Mexico:Siglo Vintuno, 1981, p.379; CAMP, L. Sprague de. The ancient engineers, New York: Ballantine Books, 1963, p. 354; GIES,
Frances & Joseph. Cathedral, forge and water wheel, New York:Harper
Collins, 1994, p.163
[2] FILGUEIRAS, Carlos. Origens da química no Brasil, Campinas:Ed. Unicamp., 2015,
p.40
[3] RONAN, Colin. História
Ilustrada da Ciência, v.II Oriente, Roma e Idade Média, Rio de Janeiro:Zahar,
2001, p. 129
[4] MANGOLD, Lydia Mez.
Imagens da história dos medicamentos, Basileia:Hoffman La Roche, 1971, p.55
[5] MANGOLD, Lydia Mez.
Imagens da história dos medicamentos, Basileia:Hoffman La Roche, 1971, p.69
[6] BRAUDEL, Fernand.
Civilização material e capitalismo, séculos XV-XVIII, Rio de Janeiro:Cosmos,
1970, p.196; TATON, René. A ciência antiga e medieval: a Idade Média, tomo I,
v.III, São Paulo:Difusão, 1959, p. 145
[7] SINGER, Charles; HOLMYARD, E. A history of technology, v.II, Oxford,
1956, p.142; SINGER, Charles. From magic to science. New York:Dover, 1958, p.95
[8] MENESES, José Newton. Os alambiques, a técnica da produção da cachaça e seu
comércio na América portuguesa. In: BORGES, Maria Eliza. Inovações, coleções,
museus. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2011, p.130
[9] PIMENTA, Reinaldo. A
casa da mãe Joana. Rio de Janeiro: Campus, 2002, p. 226
[10] WHITE, Lynn. Tecnologia
e invenções na Idade Média. In: GAMA, Ruy. História da técnica e da tecnologia,
São Paulo:Edusp, 1985, p. 90
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