domingo, 11 de julho de 2021

A Escola de tradutores de Toledo

 

Dom Raimundo de Toledo foi um monge beneditino que atuou como arcebispo de Toledo de 1125 a 1152 quando pode fundar a Escola de Tradutores de Toledo que trabalhou na tradução na biblioteca da Catedral de Toledo, principalmente do árabe para o latim, onde liderou uma equipe de tradutores que incluíram moçárabes toledanos, judeus e monges da Ordem de Cluny.[1] Uma das primeiras obras a ser traduzida na Escola de Toledo foi o Cânone da Medicina do sábio persa Ibn Sina (980-1037), conhecido no Ocidente pelo nome latinizado Avicena, tendo a cidade atingido seu ápice com centro de tradutores com o rei de Leão e Castela, Afonso X, o Sábio (1221-1284) que coordenou a tradução dos Libros del saber de Astronomia, monumental obra enciclopédica da astronomia medieval  que teve como colaboradores os judeus Samuel el Levi, Rabiçag ben Cayut, Rabiçag de Toledo e Yohuda ben Mose e os cristãos João de Messina e João Cremona.[2] Gerardo de Cremona permaneceu na Espanha no século XII na Escola de Toledo para traduzir mais de setenta textos árabes[3]. Gerardo de Cremona traduziu do árabe diversas obras científicas de Aristóteles[4]. As obras lógicas e a Metafísica de Aristóteles, contudo, já eram conhecidas do Ocidente, pelos comentários feitos por exemplo por Clemente de Alexandria (Stromata Livro VI)[5] e Isidoro de Sevilha[6] entre outros, embora sem o aprofundamento exegético do século XII em parte em função das traduções mais confiáveis. No século XII entre outros tradutores que trabalharam tanto em cidades da Espanha como Toledo e Saragoça como no sul da França destacam-se também os ingleses Adelardo de Bath, Robert de Keatton, Robert Chester (que em 1145 traduziu o livro de de Al Khwarizmi e que latinizou o termo al-jabr para álgebra[7]), os italianos Gerardo de Cremona e Plato / Platão de Tívoli, o austríaco Hermano Dalmata de Caríntia e o holandês Rodolfo de Bruges.[8] Daniel Boorstin observa como muitas vezes o trabalho dos tradutores não é reconhecido, como no provérbio italiano traduttore, traditore (“tradutor, traidor”).[9] Padover destaca que a absorção de conhecimentos dos árabes no século XIII foi “em cima da hora” pois o Oriente muçulmano estava praticamente destruído pela invasão dos mongóis que criou um vasto império que se estendeu por toda a Eurásia. [10]

[1] GIES, Frances & Joseph. Cathedral, forge and water wheel, New York:Harper Collins, 1994, p.160

[2] ALBUQUERQUE, Luis. Introdução a história das descobertas portuguesas, Lisboa:Europa América, 1959, p. 209

[3] LYONS, Jonathan. A casa da sabedoria, Rio de Janeiro: Zahar, 2011, p.195; TATON, René. A ciência antiga e medieval: a Idade Média, tomo I, v.III, São Paulo:Difusão, 1959, p. 114

[4] GILLISPIE, Charles. Dicionário de biografias científicas, Rio de Janeiro:Contraponto, 2007, v.I, p.114

[5] http://gnosis.org/library/strom6.htm

[6] https://pt.wikipedia.org/wiki/Isidoro_de_Sevilha

[7] BERLINGHOFF, Wiliam; GOUVEA, Fernando. A matemática através dos tempos, São Paulo: Blucher, 2010, p. 33

[8] MORTIMER, Ian. Séculos de transformações. Rio de Janeiro:DIFEL, 2018, p. 65

[9] BOORSTIN, Daniel. Os descobridores, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1989, p.496

[10] BATTLES, Matthew. A conturbada história das bibliotecas, São Paulo: Planeta, 2003, p. 71



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