sábado, 10 de julho de 2021

A modernidade nos autores medievais

 

Joahan Huizinga mostra que na literatura, artes e pintura a transição para era moderna se fez de forma gradual: “é-nos difícil imaginar que o espírito pudesse cultivar as antigas formas de pensamento e de expressão medievais e aspirar ao mesmo tempo à visão antiga da razão e da beleza”[1]. Petrarca na literatura, Nicolas Oresme na filosofia e van Eyck na pintura são exemplos de homens da idade média que já mostram claramente traços de modernidade em seus trabalhos. Oresme rompeu o equilíbrio entre razão e experiência insistindo nos limites da razão.[2] Decamerão de Boccaccio, A Divina Comédia de Dante são outros exemplos de obras de autores medievais um período que eles próprios consideravam de desprovido de valor cultural.[3] Peter Burke mostra que os livros do século XVI O Cortesão de Castiglio e O Príncipe de Maquiavel estão mais próximos da idade média do que parece[4]. João Salisbury, Dante e os poetas goliardos das universidades medievais[5] eram entusiastas da literatura grega como qualquer outro autor renascentista[6]. Dante tomou Virgílio como guia no inferno. Erasmo tinha Cícero como um santo[7] Roland Mousnier na mesma linha argumenta que a França do século XII e a Itália do século XVI demonstraram interesse pela antiguidade clássica sendo as escolas catedrais de Reims, Chartres, Órleans de Paris centros do humanismo e Chartres o centro dos estudos latinos na Europa. O teólogo cristão João Salisbury ao lado de Hugo de São Vitor, Anselmo de Cantuária e Pedro Abelardo, foi um dos responsáveis pela transformação ocorrida no século XII com relação ao modo como se encarava o conhecimento e a filosofia ao fim da Idade Média.



[1] HUIZINGA, Johan. O declínio da idade média, Rio de Janeiro:Ulisseia, s/d, p.327

[2] JÚNIOR, Hilário Franco. A idade média nascimento do Ocidente, São Paulo:Brasiliense, 2004, p.122

[3] CORNELL, Tim; MATHEWS, John. Renascimento v.I ,Grandes Impérios e Civilizações, Lisboa:Ed. Del Prado, 1997, p. 41

[4] BURKE, Peter. O renascimento, Lisboa:Textos&Grafia, 1997, p.13

[5] ECO, Umberto. Idade média: bárbaros, cristãos e muçulmanos, v.I, Portugal:Dom Quixote, 2010, p.11-12; HASKINS, Charles. A ascenção das universidades, São Paulo: Danúbio, 2015, p.1417/1743

[6] BURNS, Edward McNall. História da civilização ocidental, Rio de Janeiro:Ed. Globo, 1959, p.391

[7] PERNOUD, Régine. Idade Média: o que não nos ensinaram, Rio de Janeiro:Agir, 1994, p. 20



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