Para
o reitor medieval da Universidade de Paris Pierre d’Ailly: “Na filosofia ou na doutrina de Aristóteles,
não há absolutamente ou então há poucas razões evidentemente demonstráveis
[...] Concluo que a filosofia ou a doutrina de Aristóteles merece mais ser
chamada de opinião que de ciência“.[1] Segundo a diretriz de 1210 “tampouco os
livros de Aristóteles sobre filosofia natural e seus comentários devem ser
lidos em Paris, em público ou em segredo, e isso proibimos sob pena de
excomunhão”.[2] Novas restrições foram publicadas pela Universidade de Paris o que denuncia a ineficácia
de tais medidas. Em 1231 o papa exigiu que tais livros fossem “examinados e
purgados de qualquer suspeita de erro”, mas em 1254 vemos os mesmos livros
como parte do currículo de artes, ou seja, não foram expurgados.[3] Em 1241 uma série de dez erros foram apontados pelo reitor da Universidade de
Paris em questões que envolviam a visibilidade da essência divina e a
localização das almas após a morte se seria no ceu empíreo ou no cristalino[4].
Charles Haskins conclui que exceto pelas questões teológicas havia muita
liberdade no ensino nas universidades do século XIII: “uma cerca não é um
obstáculo para quem não deseja transpô-la; e muitas barreiras que pareceriam
intoleráveis para uma época mais cética não eram sentidas como barreiras pelos
professores medievais Se alguém se sente em liberdade, então é livre”[5].
Roger Bacon ensinava a Física de Aristóteles na Universidade de Paris em 1240.[6] Uma citação de Aristóteles não era objeto de contra argumentação: Magister dixit. [7] Aristóteles
afirmava por exemplo, que a mulher tem menos dentes que o homem[8],
uma afirmação simples de ser contestada: “bastava
que madame Aristóteles abrisse a boca” como diz Bertrand Russell. [9] Segundo Francis Bacon: “Aristóteles
estabelecia antes as conclusões, não consultava devidamente a experiência para
estabelecimento de suas resoluções e axiomas. E tendo, ao seu arbítrio, assim
decidido, submetia a experiência como a uma escrava para conformá-la ás suas
opiniões. Eis porque está a merecer mais censuras que os seus seguidores
modernos, os filósofos escolásticos, que abandonaram totalmente a experiência”.[10]
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