domingo, 25 de julho de 2021

A cerveja no Egito

 

Os cerais armazenados em silos, uma vez embebidos em água adquirem um gosto doce. O mingau que se formava deixado parado por vários dias fermentava e produzia um grão maltado com características embriagantes tornando-se cerveja. Trata-se, portanto, inicialmente de um processo acidental e cuja qualidade da cerveja produzia foi aperfeiçoada com o tempo. Registros egípcios apontam diversos tipos de cerveja. Deste mesmo mingau teria sido derivado o pão quando cozido ao fogo: o pão era cerveja sólida e a cerveja, pão líquido.[1] Os salários dos trabalhadores egípcios eram pagos em pão, cerveja, feijão, carne seca, gordura, sal[2], bolos, sandálias, óleo e linho[3]. Na mastaba de Nekhebu em Gizé há um texto que narra as obras realizadas pelo arquiteto e o pagamento feito em amuletos ankh, pão e cerveja.[4] Um dos primeiros moinhos de mão no Egito data de 2500 a.c.[5] com que era preparado o pão. O pão e a cerveja eram as principais matérias primas do Antigo Egito.[6] Era comum aos cervejeiros da época carregar a cerveja com eles e estes recipientes com o uso acumulavam organismos em suas fendas e rachaduras. Ao final a borra de uma fermentação anterior era adicionada a mistura de pão com cerveja, de modo a formar um puro, ou quase pura levedura por volta de 1500 a.c.[7] O papiro de Rhind se apresenta como “regras para estudar a natureza e para compreender tudo aquilo que existe, cada mistério, cada segredo”[8] e se ocupa de questões práticas da vida administrativa do governo como quantos galões de cerveja ou quantos pães podem ser obtidos a partir de determinada quantidade de grãos bem como identificar adulterações na cerveja ou pão[9]. Há registros da presença de bodes e ovelhas, que normalmente não fazia parte da dieta dos povos egípcios além da presença de padarias e hospitais próximos a estes assentamentos de trabalhadores o que mostra a alta qualidade com que estes trabalhadores eram tratados[10]. A figura mostra mulher fazendo cerveja coando através de uma peneira a mistura de cevada molhada. Quinta Dinastia (séc. XXIV a.c.)



[1] STANDAGE, Tom. História do mundo em 6 copos, Rio de Janeiro: Zahar, 2005, p. 21

[2] STROUHAL, Eugen. A vida no antigo Egito. Barcelona:Folio, 2007, p. 185

[3] JOHNSON, Paul. História Ilustrada do Egito. Rio de Janeiro:Ediouro, 2002, p. 82

[4] MANUELIAN, Peter der. Module 6: Case Study: The Biographical Inscriptions of Nekhebu (G 2381). Harvard online Courses: Pyramids of Giza: Ancient Egyptian Art and Archaeology, 2018. https://online-learning.harvard.edu/course/pyramids-giza-ancient-egyptian-art-and-archaeology?offset=12

[5] DERRY, T.; WILLIAMS, Trevor. Historia de la tecnologia: desde la antiguidade hasta 1750, Mexico:Siglo Vintuno, 1981, p.88

[6] TIRADRITTI, Francesco. Tesouros do Egito do Museu egípcio do Cairo, White Star Pub, 1998, p.102

[7] FORBES, R. Chemical, culinary and cosmetic arts. In: SINGER, Charles; HOLMYARD, E. A history of technology, Oxford Clarendon Press, 1958, v. I. p. 279

[8] TATON, René. A ciência antiga e medieval, São Paulo:Difusão, 1959, tomo I, v.I, p. 44

[9] MacGREGOR, Neil. A história do mundo em 100 objetos, Rio de Janeiro:Intrínseca, 2013, p.135

[10] TARONAS, Laura. Module 4: Who build the pyramids. Harvard online Courses: Pyramids of Giza: Ancient Egyptian Art and Archaeology, 2018. https://online-learning.harvard.edu/course/pyramids-giza-ancient-egyptian-art-and-archaeology?offset=12



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