Em 1870 Ferreira Penna descobriu que a ilha do
Pacoval, no Marajó, era de fato um cemitério indígena, com grande quantidade de
material cerâmico[1] a qual se seguiram diversas outras expedições como as de Orville Derby em 1876,
Algot Lange do Museu de História Natural de Nova York em 1913, Curt Nimuendaju da
Universidade Gotemburgo em 1922; Helen Palmatary da Universidade de Pensilvania
em 1941; Clifford Evans e Betty Meggers da Universidade de Columbia em 1948,
entre outros[2].
A Ilha de Marajó não pode ser considerada como centro de difusão de estilos
cerâmicos, pois sua fase marca o fim de um ciclo de períodos sucessivos
alcançados por cinco grupos culturais no período pré histórico (culturas
Ananatuba, Mangueiras, Formiga, Aruã e Marajoara).[3] A fase
marajoara, portanto, é de ocorrência mais recente datando de 400 a 1350 segundo
Simões em datação realizada em 1969.[4] Angyone
Costa observa a grande variedade de estilos encontradas nas cerâmicas
amazônicas.[5] Na
cerâmica marajoara são encontradas quase vinte técnicas diferentes com padrões
geométricos e figuras as de animais amazônicos como tartarugas, jacarés e
serpentes, enquanto que na cerâmica tupi guarani no litoral são encontradas
apenas quatro técnicas. O frade dominicano Gaspar de Carvajal, membro da
primeira expedição europeia a descer o rio Amazonas em 1541 relata sobre a
cerâmica amazônica: “louça que é da
melhor que já se viu no mundo, porque a de Málaga na Espanha não se iguala a
ela, pois é toda vidrada e esmaltada, de todas as cores e tão vivas que
espantam, e além disso os desenhos e pinturas que nela fazem são tão detalhados
como os da louça romana”.[6] Anna
Roosevelt mostra que as representações
femininas nos vasos de Marajó mostram a predominância das mulheres como líderes
e sacerdotisas[7].
Na década de 1990 Anna Roosevelt encontrou em Marajó cerâmicas em terracota
datadas de 6000 a.c.[8] Denise
Schaan mostra o surgimento de diversos “cacicados” da ilha de Marajó, que
ocuparam por cerca de 900 anos as áreas sazonalmente inundáveis dos campos
formado a partir do século V quando imensas plataformas de terra, conhecidas como
tesos marajoaras, com até 12m de altura e 2 a 3 hectares em área, passaram a
ser erguidas imponentemente sobre a paisagem tediosamente plana dos campos.[9] Segundo
Josué Camargo Mendes: “na fase marajoara
havia marcante estratificação social e divisão ocupacional do trabalho”.[10] Angyone
Costa relata a origem andina das cerâmicas do Amazonas destacando-se o povo da
família aruak ou nu-aruak.[11] Ferreira
Pena atribui a origem no caribe, enquanto Heloisa Alberto Torres defende ter
ocorrido uma evolução a partir da própria região resultante de uma aculturação
tupi resultado da transposição para a cerâmica da técnica de trançado em cestaria:
“a meu ver a única explicação que se pode dar para esse surto paradoxal é o
fato de se ter desenvolvido a um nível considerável a arte do trançado antes da
conquista da arte de cozer com a argila. Uma vez esta adquirida, serviu à
estamparia fiel dos motivos que os trançados criaram [..] A sensibilidade [dos
desenhos] era excepcional mas desgraçadamente faltava-lhes a cultura, que é
indispensável à firmação da independência e ao prosseguimento da evolução da
arte. A arte de marajó, de posse de meios fáceis de trabalho, e, acredito
também, sob influência estrangeira, rapidamente decaiu. Assim a mesma cerâmica
que a imortalizou, abriu-lhe a porta da decadência. Os marajoaras não tinham
economia cultural que lhes defendesse o patrimônio em face da penetração
estrangeira, em face das facilidades de trabalho. A técnica criou, a
sensibilidade desenvolveu de modo deslumbrante, mas não havia cultura que
firmasse a riqueza. Não tinha museus. As mais belas produções eram enterradas e
a simples tradição não era bastante para salvaguardar o substrato riquíssimo”
.[12]
Nenhum comentário:
Postar um comentário