Para Arnold Toynbee: “Ao usar o termo renascimento como nome próprio, deixámo-nos cair no erro de ver como única a ocorrência de um acontecimento que na realidade não foi mais do que uma instância de um fenômeno histórico que é recorrente”.[1] Peter Burke observa que a narrativa que descreve a história de forma linear marcada por períodos sequenciais como a cultura grega, romana, medieval, renascimento, revolução científica, iluminismo, busca na verdade ressaltar uma alegada superioridade das elites do Ocidente, como se toda a humanidade tivesse que reescrever sua própria história para se enquadrar neste modelo[2]. Portanto para Peter Burke faz mais sentido pensar o renascimento como um movimento do que propriamente um período histórico: “a simplista oposição binária entre a Idade Média e o Renascimento, naturalmente conveniente para efeitos expositivos, é, em muitos sentidos, gravemente enganadora”.[3] Para Arnold Toynbee ”o nome Renascença, porém, usado nesse sentido, é enganoso, pois a ressurreição do estilo greco romano foi simplesmente um acompanhamento e consequência de um segundo florescimento espontâneo da civilização ocidental, em forma diversa da de seu primeiro florescimento espontâneo século XI”.[4] Para Rosa Maria Letts: “o artista do Renascimento foi o intérprete de uma atitude mental nova. Para ele, o homem já não era tanto o humilde observador da natureza divina com a expressão orgulhosa do próprio Deus, seu herdeiro natural na Terra. A natureza não estava aqui para ser contemplada e copiada, senão para ser examinada e compreendida; não para ser temida, senão dominada. O artista ainda era um observador da natureza, porém a obra de arte se havia convertudo em um estudo da natureza na qual o artista dispunha de modo lógico cada uma das partes, formando um todo organizado e compreensível”.[5] Para Norberto Guarinello: “o impacto na cultura erudita, dos sábios e das cortes europeias, foi imenso. É a esse processo que se dá o nome equivocado de Renascimento. Não foi um renascer passivo, mas uma reconstrução profunda da memória, com objetivos bem presentes: rejeitar uma parte do passado mais recente, definindo-o como “Idade Média” ou “Idade das Trevas”, para construir uma nova identidade, voltada para o presente e para o futuro”.[6]
[1] BURKE, Peter. O
renascimento, Lisboa:Textos&Grafia, 1997, p.14
[2] BURKE, Peter. O
renascimento, Lisboa:Textos&Grafia, 1997, p.15
[3] BURKE, Peter. O
renascimento, Lisboa:Textos&Grafia, 1997, p.107
[4] TOYNBEE, Arnold. A
humanidade e a mãe terra, Rio de Janeiro:Zahar, 1976, p.605
[5] LETTS, Rosa Maria.
Introducción a la historia del Arte, Valencia:Gustavo Gill, 1985, p.11
Nenhum comentário:
Postar um comentário