Spix e Martius relata que no Rio de Janeiro “entre os naturais, são os mulatos que
manifestam maior capacidade e diligência para as artes mecânicas”.[1] Grandes
artesãos como Aleijadinho[2] cuja
biografia foi publicada por Rodrigo José Ferreira Bretas em 1858[3], mestre
Valentim[4] e
Francisco das Chagas[5], o
Cabra, eram negros[6].
Henry Koster relata que “a maioria dos
melhores artesãos é também de sangue mestiço”[7].
Russell Wood destaca que a arte barroca foi o ponto de encontro de europeus e
africanos, homens livres e escravos[8]. Wilson
Martins destaca a convivência entre mulatos com artistas estrangeiros ou
descendentes de europeus o que levou a uma influência na arte. Por exemplo o
filho de italiano João Francisco Muzzi influenciou o trabalho de Manuel da
Cunha (1737-1809) escravo do cônego Januário da Cunha Barbosa, que o levou a
estudar pintura em Lisboa. Manuel da Cunha foi o autor do teto da capela do
senhor dos Passos. Ao retornar ao Brasil foi alforriado destacando-se como
retratista como o retrato que fez do conde de Bobadela (na figura)[9]. O
escultor italiano João Grossi esteve em Lisboa no século XVIII onde tece dois
discípulos brasileiros: Félix da Rocha e José Tenório.[10] Da
mesma forma Aleijadinho autor de obras primas do barroco como a igreja da Ordem
Terceira de São Francisco em Vila Rica e em São João del Rei, aprendeu de
mestres como o próprio pai Manuel Francisco Lisboa e do medalhista e desenhista
João Gomes Batista, o que desfaz o mito de que teria sido um autodidata tal
como destacado por Saint Hilaire, o que explicaria certas rudezas e deformações
de sua obra. O historiador da arte Germain Bazin curador-chefe da Seção de
Pinturas do Museu do Louvre (1950-1965) atribui em Aleijadinho e a Escultura
Barroca atribui tais diferenças de qualidade a obras mal feitas por seus
assistentes. Bazin coloca Aleijadinho no mesmo patamar dos grandes criadores da
cultura ocidental: “um dos grandes artistas de nossa civilização”. Segundo
Myriam A. Ribeiro de Oliveira os livros de Germain Bazin sobre o barroco
brasileiro permitiram difundir internacionalmente as produções artísticas
coloniais do país, expressão que “desde então passou a fazer parte das
publicações especializadas dedicadas à arte barroca em todo o mundo, dando
projeção universal ao Aleijadinho”.[11] Lourival
Gomes Machado mostra a influência da obra de Alelijadinho com as gravuras de
Lorenzo Ghiberti. Os profetas teriam sido inspirados na igreja portuguesa de
Monte Espinho em Braga, onde também há o Santuário propriamente dito é
precedido de um monumental escadório decorado com fontes alegóricas ladeadas
por representações bíblicas de reis e profetas do Antigo Testamento, sendo a
mesma temática que o arquiteto português André Soares modelara para aquela
igreja.[12] Cabe
ressaltar a diferença na matéria prima empregada, ou seja, a pedra-sabão nas
Minas Gerais e o granito em Braga, bem como a maior expressividade amaneirada de
Antonio Francisco Lisboa. [13] O
escritor Mário de Andrade em seu texto Aleijadinho (1928) destaca a genialidade
do artista mulato “que contém algumas das constâncias mais íntimas, mais
arraigadas e mais étnicas da psicologia nacional”.
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