Jacques le Goff destaca que a grande época da
feitiçaria não será a idade média, mas o período do século XIV ao século XVIII.[1] O padre Girolamo
Savonarola será condenado à fogueira em 1498 (na figura) por seus sermões inflamados que
arrebatava multidões diante dos púlpitos nas igrejas denunciando a lassidão
moral dos Medici e dos papas, a ponto de ter expulso os Medicis de Florença e
se colocado como porta voz de Deus, tendo profetizado a morte de Lourenço
Medici, o Magnífico, e do papa Inocêncio VIII um ano de terem de fato
acontecido.[2] Jean Delumeau em seu estudo do Renascimento observa o aumento do obscurantismo
nos séculos XV e XVI – o obscurantismo dos alquimistas, dos astrólogos, das
feiticeiras e dos caçadores de feiticeiras: “o Renascimento foi, ao mesmo tempo, razão e sem razão, sombra e luz”[3]. Jacques
Verger argumenta que a perseguição à bruxaria e feiticeiras ocorre em um
momento em que se consolida, após a criação das universidades e sua difusão, de
uma ruptura entre o saber popular e um saber erudito.[4] Regine
Pernoud observa que no século XVII, o século da razão, o número de processos de
feitiçaria aumentou significativamente. O advogado Jean Bodin relata em Demonomania que enquanto juiz enviou
milhares de hereges à fogueira[5]. Na
França as últimas perseguições de bruxas na fogueira viriam a ocorrer somente
em 1679.[6]
[1] LE GOFF, Jacques. A
civilização do Ocidente Medieval. Rio de Janeiro:Vozes, 2016, p. 311
[2] HALE, John. Renascença, Rio de Janeiro: José Olympio, 1970, p.60, 61
[3] DELUMEAU, Jean. A
civilização do Renascimento, Lisboa:Estampa, 1984, v.I, p.21; v.II, p.125
[4] VERGER, Jacques. Homens
e saber na idade média, Bauru:EDUSC, 1999, p. 60
[5] PERNOUD, Régine. Idade
Média: o que não nos ensinaram, Rio de Janeiro:Agir, 1994, p. 121
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