Segundo Jaime
Cortesão uma política de sigilos já pode ser identificada desde 1454. O
descobrimento do Brasil pelos portugueses antes de Cabral seria um dos exemplos
de empreendimentos mantidos em sigilo por Portugal. Na carta que D. Manuel
comunica aos reis espanhóis da descoberta do Brasil ele se refere a que Cabral “chegou
a uma terra que novamente descobriu” embora segundo Helio Vianna, o termo “novamente”
deva ser entendido aqui como “recentemente”. No Esmeraldo de
Duarte Pacheco publicado em 1505 há um trecho pouco claro em que faz referência
a viagens anteriores a terra do pau brasil: “feitas em 1498: “A experiência,
que é madre das coisas, nos desengana e de toda dúvida nos tira; e portanto,
bem aventurado Príncipe, temos sabido e visto como no terceiro ano de vosso
reinado do ano de Nosso senhor de 1498
donde nos mandou Vossa Alteza mandou descobrir a parte ocidental, passando além
da grandeza do mar oceano onde é achada e navegada uma tão grande terra firme,
com muitas e grandes ilhas adjacentes [...] é achado nela muito e fino brazil
com muitas outras coisas de que os navios nesses reinos vem grandemente
carregados”.[1] Para Helio Vianna a referência a pau brasil se explica porque na época em que
Duarte Coelho escreve em 1506 a existência de pau brasil ao sul do equador já
era conhecida, e portanto, esta informação pode ter sido inserida pelo autor do
Esmeraldo como uma imprecisão histórica[2]. No Tratado
de Tordesilhas de junho de 1494 estipulou-se que Portugal e Espanha tinham dez meses
contados da assinatura do tratado para enviar caravelas com tripulações mistas
de pessoal dos dois países para proceder in loco a marcação de meridiano.
Para Helio Vianna a aceitação do Tratado de Tordesilhas com marco de 370 léguas
a oeste de Cabo Verde denota o conhecimento prévio de que ela não iria
prejudicar as pretensões portuguesas. O segredo de D. João II de suas
descobertas já não se podia prolongar, por isso, logo após a volta de Vasco da
Gama envia navegadores para a costa ocidental em 1498. Na frota de Cabral em
1500, Duarte Pacheco tomaria parte como experiente navegador. Segundo Duarte
Leite: “teria algum português antes de Duarte Pacheco avistado as praias do
Brasil ? Dizendo D. João II que “ao austro havia terra firme”, por causa da
qual tivera diferenças com os Reis Católicos, como testemunha Colombo, é de
presumir que tal afirmação não seria feita por simples suspeita, mas por
informação de navegador que passou naquelas paragens”.
[1] PEREIRA, Paulo Roberto.
Os três únicos testemunhos do descobrimento do Brasil, Rio de Janeiro: Lacerda
Editores, 1999, p. 20; VASCONCELLOS, Ernesto; GAMEIRO, Alfredo; MALHEIROS,
Carlos. In: História da Colonização Portuguesa no Brasil, Edição Monumental
Comemorativa do Centenário de Independência do Brasil, Porto, Litografia
Nacional, 1921, Capítulo III Os falsos precursores de Cabral, p. 241
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