Joel Mokyr aponta a regra dos monges beneditinos como
enfatizando o respeito ao trabalho. Todo o ideal beneditino se resume a “reza
e trabalha” “ora et labora”)[1] o que
segundo Michel Rouche era uma valorização do trabalho oposta a civilização
romana que tinha como ideal de vida o ócio pessoal do homem culto[2]. Os
beneditinos do mosteiro de Saint Gall na Suíça se destacaram pelos novos usos
do moinho hidráulico para preparação de cerveja no ano de 900.[3] A
reforma do mosteiro de Citeaux na Burgundia, seguindo a tradição beneditina
utilizou o moinho não somente para moer cereais, mas para enchimento de pano, torças
de cordas, forjas de ferro e fornos (onde as rodas do moinho acionavam os
foles), prensas para fabricação de vinho e trabalhos na preparação do vidro. Os
primeiros moinhos usados na metalurgia na Alemanha , Dinamarca e sul da Itália
eram todos mosteiros cistercienses. O trabalho adquire a dignidade de um culto
divino sendo praticado pelos monges letrados. Com isso, segundo Perry Anderson:
“caía, indubitavelmente uma das barreiras culturais que se opunham à
inovação e ao progresso técnico”.[4] Para
Perry Anderson isto somente foi possível, não por uma iniciativa autônoma da
própria Igreja, mas devido as transformações sociais da época com o
enfraquecimento do escravagismo e ascenção do feudalismo, em que Igreja
desempenhou um papel importante nessa passagem sabendo como se moldar as novas
relações sociais que se estabeleciam. Orar é uma forma de trabalhar a trabalhar
uma forma de orar.[5] O capítulo 48 da Regra de São Bento estabelece o preceito do trabalho manual e
intelectual: “a ociosidade é inimiga da
alma; por isso, em certas horas devem ocupar-se os irmãos com o trabalho manual
e, em outras, com leitura espiritual”.[6] Pela Regra 66 “seja, porém, o
mosteiro, se possível, construído de tal modo que todas as coisas necessárias,
isto é, água, moinho, horta e os diversos ofícios, se exerçam dentro do
mosteiro”.[7] Segundo Hilário Franco: “rezar é combater
as forças maléficas, contribuindo para a salvação não apenas da alma do próprio
monge, mas também de toda a sociedade; trabalhar é afastar a alma de seus
inimigos, a ociosidade e o tédio, é alcançar através desta forma de ascese uma
fonte de energia. Tanto quanto o trabalho manual, o intelectual, a leitura de
textos sagrados, prepara a alma para a oração. Enfim orar é uma forma de
trabalho, trabalhar é uma forma de orar”.[8]
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