domingo, 6 de junho de 2021

O Renascimento foi progressista ?

 

Segundo John Hale: “a influência do passado foi fortalecida pelo fato de que o Renascimento não tinha concepção do progresso evolucionista. Os homens não acreditavam como acreditam os homens modernos (com receios) que uma sociedade pode melhorar decididamente inventando novas formas de explorar recursos naturais e de organizar economias e governos. Seu impulso era para redescobrir, não para inventar. Procuraram melhorar as condições humanas não buscando avanças nas fronteiras do conhecimento, mas esmiuçando os reservatórios do passado. O renascimento achava que os antigos haviam feito tudo da melhor maneira possível. Mudanças eram viáveis, na verdade, cada nova geração de pintores era louvada porque era “mais moderna”. Mas, “mais moderna” para o Renascimento, na realidade queria dizer mais próxima dos preceitos estabelecidos pela antiga Roma”.[1] No entanto, o Renascimento marca um processo de revisão das cópias dos textos antigos clássicos buscando-se eliminar erros acumulados pelos copistas ao longo do tempo. Este processo não se limita a detecção de erros de transcrições, mas logo avança para uma crítica dos textos antigos. Nicolau Leoniceno (1428-1524) no livro “Sobre os erros de Plínio e de muitos outros em medicina” é considerado um dos pioneiros deste processo.[2] Peter Burke mostra que um dos traços do movimento humanista era a imitação dos grandes escritores e artistas: “apesar de sermos levados a pensar que esse período foi uma era de inovação e originalidade, os próprios artistas e escritores enfatizavam a sua imitação dos melhores modelos antigos; o Panteão, Lacoonte, Cícero, Virgílio, Tito Lívio e assim por diante”.[3] A proposta era de se basear no modelo clássico e assimilar seu conteúdo. Poggio Bracciolini descobriu um texto não deturpado de Instituições de Quintiliano de grande repercussão.



[1] HALE, John. Renascença, Rio de Janeiro: José Olympio, 1970, p.18

[2] ABRIL Cultural, Medicina e Saúde. História da Medicina, v.I, São Paulo, 1970, p. 103

[3] BURKE, Peter. O renascimento, Lisboa:Textos&Grafia, 1997, p.35



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