domingo, 6 de junho de 2021

A perseguição aos judeus em Portugal em 1495-1497

 

Oliveira Marques mostra que D. Manuel começou seu reinado (1495-1521) libertando os judeus cativos, porém, em 1497 decidiu-se pela expulsão aos que não aceitassem a conversão ao catolicismo. Os cristãos novos não seriam incomodados oficialmente até 1534[1] Desde a expulsão dos judeus da Espanha e 1492 aumentara muito o número de judeus em Portugal e logo se manifestariam as perseguições. O rei instituiu a cobrança de dois escudos por cada imigrante, para que pudessem permanecer em Portugal por oito meses. Os judeus ilegais eram enviados para o desterro nas ilhas de S. Tomé e Príncipe. No capítulo 59 do Shebet Yehudá, Salomão Ibn Verga no Shebet Yehudá descreve o traslado de crianças judias a São Tomé: Quem não assistiu estas terríveis cenas de prantos, choros e gritos de mulheres, jamais haverá visto nem escutado em vida, tamanha preocupação e desconsolo. E ninguém consola e ninguém protege ou defende”. Na obra martirológica Emeq Ha-Baqa (Vale das Lágrimas), o cronista Yosef Ha-Cohen (1496-1575) narra as perseguições enfrentadas pelos judeus desde as origens até a época da publicação de sua crônica, em 1575. No capítulo 27 da obra Consolaçam as Tribulações de Israel, Samuel Usque (1530-1596) cita o traslado forçado de crianças judias a São Tomé no tempo de D. João II rei de Portugal de 1481 a 1495[2]. Oliveira Martins mostra que a ambição de D. Manuel de unir os reinos ibéricos, levou-o a ceder às exigências dos reis católicos espanhois, de modo que numa das cláusulas do seu contrato de casamento com a herdeira de Espanha, Isabel de Aragão em 1497 era prevista, como presente de bodas, a expulsão dos infiéis (mouros e judeus) do reino de Portugal.[3] Em abril de 1497 novas ordens  expedidas para todo o reino para que se encaminhasse os filhos menores de quatorze anos dos judeus que tivessem se recusado em batizar seus filhos para que fossem distribuídos pelas cidades, vilas e aldeias entregando-os  a famílias que as educassem na vida cristã: “Eu próprio vi – dizia, mais de trinta anos depois, um prelado venerável – os pais com as cabeças metidas nos capuzes, em sinal de suprema  dor e luto, que conduziam os seus filhos à cerimônia do batismo, protestando e chamando a Deus por testemunha de que eles, pais e filhos,  queiram morrer na lei de Moisés”[4]. Em 1531 uma bula papal nomeava Diogo da Silva como inquisidor no reino de Portugal e seus domínios. [5]

[1] MARQUES, Oliveira. Brevíssima história de Portugal, Rio de Janeiro: Tinta da China, 2016, p. 61

[2] FAINGOLD, Reuven. Judeus ibéricos deportados a São Tomé entre 1492-1497 http://www.morasha.com.br/historia-judaica-moderna/judeus-ibericos-deportados-a-sao-tome-entre-1492-8.html

[3] MARTINS, Oliveira. História da civilização ibérica, Lisboa: Guimarães Editores, 1994, p. 278; HERCULANO, Alexandre. História da origem e estabelecimento da inquisição em Portugal, Lilsboa: Bertrand, p.140

[4] HERCULANO, Alexandre. História da origem e estabelecimento da inquisição em Portugal, Lilsboa: Bertrand, p.150

[5] HERCULANO, Alexandre. História da origem e estabelecimento da inquisição em Portugal, Lilsboa: Bertrand, p.278



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