segunda-feira, 14 de junho de 2021

O ofício de ourives no Brasil colonial do século XVIII

 

A sociedade urbana em Minas Gerais diversificou-se com o ciclo do ouro, carpinteiros, forjadores, ourives, tecelões, vendeiros, administradores e militares se desenvolveram[1]. Nos ofícios de ourives de ouro e prata o rigor na regulamentação do oficio era maior do que nos demais ofícios. Nestes não se admitiam pretos conforme Alvará Régio de 20 de novembro de 1621. De 1625 a 1881 são registrados como ourives nas irmandades de Salvador apenas dois pardos e um crioulo em 1862. Uma carta dirigida ao juiz de fora da capitania de Pernambuco em 1732 revela que “Sabemos que a ourivesaria brasileira colonial esteve em grande parte nas mãos de mulatos e pretos” e considerava “excessivo o número de oficiais ourives que existiam em Olinda, no Recife e em outros lugares, sendo a maior parte deles mulatos e negros, e ainda escravos, contra a lei, resultando disso gravíssimo dano à república”.[2] Ricardo Maranhão destava que “Nas ruas de Vila Rica podiam-se encontrar lojas de sapateiros, ferreiro, tanoeiros, joalheiros, carpinteiros, etc a ponto de surgirem ali, como nos outros núcleos mais importantes, ruas especializadas em um tipo de artigo ou serviço”.[3] Segundo Salomão Vasconcelos o trabalho dos artífices em Vila Rica não possuía qualquer regulamentação até 1725 inexistindo qualquer corporação de artesãos. Com a intensificação da atividade mineradora do ouro, o ofício de ourives passou a ser regulado com maior severidade pela metrópole porque facilitava o descaminho do ouro permitindo fraudar o pagamento do quinto. Já em 1698 a coroa determinou que apenas dois ou três ourives poderiam ter permissão para exercer seu ofício no Rio de Janeiro. [4] Uma lei de 1719 condenava os ourives de São Paulo e Minas que fossem encontrados ao degredo de seis anos na Índia com o confisco de todos os seus bens.[5] Uma carta régia de 1730 proibiu a permanência de ourives nos distritos de Minas.[6] Em 1783 Juan Francisco Aguirre reporta a presença de lapidadores de diamantes e ourives no Rio de Janeiro.[7] Para as casas da moeda e fundições de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e São Paulo admitiam-se apenas mestres de “ilibado caráter”.[8] No século XVIII o ourives francês Jean Delane chegou a Vila Rica casando-se com a brasileira Maria de Jesus aportuguesando seu nome para João de Lana.[9] Entre aos artesãos brasileiros muitos se destacaram como José Teófilo de Jesus, Silvestre de Almeida Lopes, José Patrício da Silva Manso entre outros. O talentoso ourives Manuel Dias de Oliveira fixou-se no Rio de Janeiro em 1763 vindo a desenvolver sua técnica na Real Casa Pia em Lisboa e posteriormente na Academia de São Lucas em Roma, retornando ao Brasil em 1800 como professor régio de desenho no Rio de Janeiro, tornando-se conhecido como “o Brasiliense” em Portugal e “o Romano” no Brasil.[10] Após a vinda família real para o Brasil foi expedida regulamentação em 1815 concedendo ampla liberdade aos ourives.[11]

[1] CALDEIRA, Jorge. História do Brasil, São Paulo:Cia das Letras, 1997, p.89

[2] VALLADARES, José Gisella. As artes plásticas no Brasil: Ourivesaria, Rio de Janeiro:Ediouro, 1952, In: ARAUJO, Emanuel. Arte, adorno, design e tecnologia no tempo da escravidão. Secretaria da Cultura de São Paulo, 2013, p.130

[3] AQUINO, Fernando, Gilberto, Hiran. Sociedade brasileira: uma história, São Paulo: Record, 2000, p.225

[4] CUNHA, Luiz Antonio. Aspectos sociais da aprendizagem de ofícios manufatureiros no Brasil colônia. Forum:Rio de Janeiro, v.2, out/dez 1978, p.41; ALBUQUERQUE, Manoel Maurício. Pequena história da formação social brasileira, Rio de Janeiro: Graal, 1981, p. 115

[5] SOUTHEY, Robert. História do Brasil, Brasília: Melhoramentos, 1977, v.3, p. 154; ALBUQUERQUE, Manoel Maurício. Pequena história da formação social brasileira, Rio de Janeiro: Graal, 1981, p. 115

[6] CORTESÃO, Jaime. Alexandre Gusmão e o Tratado de Madrid, v.I, São Paulo: Funag, 2006, p.51

[7] LIMA, Heitor Ferreira, Formação Industrial do Brasil, período colonial, Rio de Janeiro: ED. Fundo de Cultura, 1961, p. 261

[8] SOUTHEY, Robert. História do Brazil, Rio de Janeiro:Garnier, 1862, v.I, p.188

[9] BARDI, Pietro. Arte da prata no Brasil, São Paulo: Banco Sudameris, 1979, p. 46

[10] PRIORE, Mary del. Histórias da gente brasileira, Vol. 1 Colônia. Rio de Janeiro:Leya, 2016, p. 105

[11] VIANNA, Helio. História do Brasil, primeira parte, período colonial. São Paulo: Melhoramentos, 1972, Segunda Parte, p.26


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