Antonio Porro mostra que os cronistas da época descrevem tanto na várzea
amazônica como para a costa brasileira, indescritíveis mortandades de
indígenas. Antonio Porro mostra que entre as expedições que todo ano faziam
chegar ao baixo Amazonas e ao litoral novas levas de cativos, pode-se mencionar
as seguintes: a de Pedro da Costa Favela ao Urubu, em 1664, expedição punitiva
que se diz ter destruído trezentas malocas; as de João de Moraes Lobo e
Faustino Mendes aos Abacaxis e outras tribos entre o Tapajós e o Madeira, em
1691 e diversas outras: “Para entender o brutal despovoamento sofrido pela
várzea é preciso também considerar que a ação predatória se abateu sobre
populações já dizimadas por novas moléstias contra as quais os organismos não
tinham resistências. Que elas precederam de muito a chegada das tropas de
resgate e ilustrado pelo caso dos Omágua. Em 1647, muitos anos antes que os portugueses
começassem a frequentar o seu território os Omágua foram alcançados por uma
epidemia de varíola que durou quase três meses e causou a morte de tal vez um
terço da população [...] Em 1691, ao ser
escoltado de volta às suas missões, o jesuíta subiu o Amazonas registrando o
despovoamento de grande parte das suas margens. Da foz do Tapajós à do Urubu,
em quase 600 km das outrora populosas províncias dos Tapajós, Conduris,
Tupinambarana e Arawak, eram agora catorze dias de viagem "sem povoado nem
gente", à exceção da aldeia jesuítica de Tupinambarana, nas proximidades
da futura Parintins. Da barra do rio Negro à foz do Purus, por mais de 220 km
que, havia cinquenta anos, eram povoados pelas "infinitas nações" dos
Carabuyana, Caripuna e Zurina, eram agora "nove dias sem haver
povoados". A grande aldeia dos Cuchiguara na foz do Purus estava queimada
e abandonada e "todos estão retirados com medo".[1] Na análise de Heitor Lima “nessa
empresa tiveram especial significação as chamadas tropas de resgate, expedições
de apresamento de indígenas, que subiam os rios em canoas, sob fúteis pretextos
ou mesmo sem eles, devastando as aldeias e a força trazendo seus moradores para
o trabalho nas povoações, fazendas e engenhos do Pará e Maranhão. Sob a
alegação de que iam resgatar os índios já escravizados por outros indígenas ou
condenados à morte por seus inimigos, provocavam-nos a fim de pode apresentar a
guerra como justa, submetendo à escravidão os vencidos, de acordo com a
permissão contida na legislação da época”.[2]
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