quinta-feira, 10 de junho de 2021

O massacre das tribos amazônicas no século XVII

 

Antonio Porro mostra que os cronistas da época descrevem tanto na várzea amazônica como para a costa brasileira, indescritíveis mortandades de indígenas. Antonio Porro mostra que entre as expedições que todo ano faziam chegar ao baixo Amazonas e ao litoral novas levas de cativos, pode-se mencionar as seguintes: a de Pedro da Costa Favela ao Urubu, em 1664, expedição punitiva que se diz ter destruído trezentas malocas; as de João de Moraes Lobo e Faustino Mendes aos Abacaxis e outras tribos entre o Tapajós e o Madeira, em 1691 e diversas outras: “Para entender o brutal despovoamento sofrido pela várzea é preciso também considerar que a ação predatória se abateu sobre populações já dizimadas por novas moléstias contra as quais os organismos não tinham resistências. Que elas precederam de muito a chegada das tropas de resgate e ilustrado pelo caso dos Omágua. Em 1647, muitos anos antes que os portugueses começassem a frequentar o seu território os Omágua foram alcançados por uma epidemia de varíola que durou quase três meses e causou a morte de tal vez um terço da população [...]  Em 1691, ao ser escoltado de volta às suas missões, o jesuíta subiu o Amazonas registrando o despovoamento de grande parte das suas margens. Da foz do Tapajós à do Urubu, em quase 600 km das outrora populosas províncias dos Tapajós, Conduris, Tupinambarana e Arawak, eram agora catorze dias de viagem "sem povoado nem gente", à exceção da aldeia jesuítica de Tupinambarana, nas proximidades da futura Parintins. Da barra do rio Negro à foz do Purus, por mais de 220 km que, havia cinquenta anos, eram povoados pelas "infinitas nações" dos Carabuyana, Caripuna e Zurina, eram agora "nove dias sem haver povoados". A grande aldeia dos Cuchiguara na foz do Purus estava queimada e abandonada e "todos estão retirados com medo".[1] Na análise de Heitor Lima “nessa empresa tiveram especial significação as chamadas tropas de resgate, expedições de apresamento de indígenas, que subiam os rios em canoas, sob fúteis pretextos ou mesmo sem eles, devastando as aldeias e a força trazendo seus moradores para o trabalho nas povoações, fazendas e engenhos do Pará e Maranhão. Sob a alegação de que iam resgatar os índios já escravizados por outros indígenas ou condenados à morte por seus inimigos, provocavam-nos a fim de pode apresentar a guerra como justa, submetendo à escravidão os vencidos, de acordo com a permissão contida na legislação da época”.[2]

[1] CUNHA, Manuela Carneiro. História dos índios no Brasil, São Paulo:Cia das Letras, 1992, p. 191

[2] VIANNA, Helio. História do Brasil, primeira parte, período colonial. São Paulo: Melhoramentos, 1972, p.189



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