sábado, 12 de junho de 2021

As feiras medievais

 

Frances Gies mostra que as feiras livres foram uma característica central da Revolução Conercial na idade média e que se espalhou pelos centros comerciais da Itália, Flandres, Alemanha e França. Na França em Saint Denis, próximo a Paris, em 635 a feira anual atraía muitos mercadores e clientes.[1] As feiras de Champagne estabeleciam uma relação entre os Países Baixos e a Itália desde o século XII até o século XIV. As guildas comerciais surgidas especialmente após o final do século XII controlam a economia urbana estabelecendo uma relação direta entre produtores artesãos e meios de produção. Somente nas cidades flamengas e italianas chegou a surgir um estrato assalariado de trabalhadores urbanos de certa importância. Em Florença, Basileia, Estrasburgo e Gand tais guildas de artesãos ocuparam posições importantes no poder político municipal.[2] Os tecelões mais ricos não somente viajavam às feiras em Champagne para vender seus tecidos como empregavam tintureiros e tecelões bem como pequenos mestres de outros ofícios. Uma ordenança de 1270 mostrava uma clara distinção entre tecelões que distribuíam o trabalho e os mestres tecelões que eram empregados por eles. As feiras de Champagne pela utilização de letras de crédito exercem papel fundamental na expansão do comércio medieval[3]. No início do século XIII o rei francês Filipe Augusto deu salvo conduto régio aos mercadores que se dirigissem para a feira de Champagne. [4] Os condados de Champagne organizam a feira em ciclos anuais de seis feiras ocupando o ano inteiro.[5] Feria em latim significa dias de festa ou repouso, ocasião em que os mercadores organizavam suas mercadorias em praça pública, e que passaram a ser conhecidas como feiras.[6] Em Flandres do século XIV haviam diversas feiras, com as de Ypres, Thourout, Lille e Messine.[7] As feiras eram imunizadas pela “paz do mercado” assegurando alojamentos e armazenamento das mercadorias e pela anulação do aubaine que conferia ao senhor feudal o direito de se apossar dos bens daquele que morresse em suas terras.[8] Segundo Jacques le Goff “Há, inicialmente, os salvo-condutos concedidos em toda a extensão das terras condais. Em seguida, a isenção de todas as taxas servis sobre os terrenos onde se construíram alojamentos e estabelecimentos comerciais. Os burgueses foram isentados das talhas e dos foros em troca de taxas fixas resgatáveis. Os terrádegos e as banalidades foram abolidos ou limitados consideravelmente. Esses mercadores não estavam sujeitos nem aos direitos de represailles e de Marque, nem ao direito de aubaine e de épave. Os condes, sobretudo, asseguravam o policiamento das feiras, controlavam a legalidade e a honestidade das transações, garantiam as operações comerciais e financeiras”.[9] No final do século XIII as feiras entram em declínio com o incremento do comércio marítimo entre o Norte da Europa e o Mediterrâneo.[10] Pierre Monet mostra o desenvolvimento do sistema de feiras a partir do século XII e das grandes companhias marítimas de comércio do século XIII para comércio de longa distância não fez com que desaparecesse o mercador isolado e itinerante do comércio local.[11]

[1] GIES, Frances & Joseph. Cathedral, forge and waterwheel, New York: Harper Collins, 1994, p. 108

[2] ANDERSON, Perry. Passagens da antiguidade ao feudalismo, Porto: Afrontamento, 1982, p. 215

[3] PERROY, Edouard. A idade média: o período da Europa feudal (sec. XI - XIII), tomo III, v. 2, São Paulo:Difusão Europeia, 1974, p. 133

[4] JÚNIOR, Hilário Franco. A idade média nascimento do Ocidente, São Paulo:Brasiliense, 2004, p.41

[5] GIES, Frances & Joseph. Cathedral, forge and waterwheel, New York: Harper Collins, 1994, p. 108

[6] PIMENTA, Reinaldo. A casa da mãe Joana. Rio de Janeiro: Campus, 2002, p. 91

[7] MONTEIRO, Hamilton. O feudalismo: economia e sociedade, São Paulo:Ática, 1987, p.66

[8] AQUINO, Fernando, Gilberto, Hiran. Sociedade brasileira: uma história, São Paulo: Record, 2000, p.37

[9] LE GOFF, Jacques. Mercadores e Banqueiros da Idade Média. São Paulo: Martins Fontes, 1991

[10] LOYN, Henry. Dicionário da idade média. Rio de Janeiro:Jorge Zahar, 1997, p.87

[11] MONNET, Pierre. Mercadores. In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean Claude. Dicionário analítico do Ocidente medieval. v.II, São Paulo:Unesp, 2017, p. 212



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