Frederick Mauro registra
uma curva de ascenção da economia brasileira entre 1787 e 1825 e conclui: “seríamos tentados a falar que, após a crise
do ouro, o Brasil teria mergulhado numa economia estacionária. Mas é o período
em que se desenvolve a criação – poderíamos falar num ciclo do gado – e as
culturas de substituição: cacau no Pará; algodão e arroz no Nordeste e no Sul”[1].
Antonil registra a existência de mais de 500 currais nos sertões da Bahia, com
mais de meio milhão de cabeças de gado.[2] Na segunda metade do século XVIII foram negociadas mais de 10 mil mulas por ano
na feira de Sorocaba.[3] Uma rês que valia 2 mil reis em São Paulo era vendida por 75 mil em Minas
Gerais no auge da economia mineira.[4] Na década de 1780 o intercâmbio de
comércio entre Minas e Bahia limitava-se
a caravanas de mulas trazidas pelos tropeiros que chegavam a caminhar mais de
dois mil quilômetros[5].
A constante movimentação de tropas exigia que os animais fosse marcados a ferro
em brasa para evitar confusões o que levou ao desenvolvimento de inúmeros
ferreiros ao longo dos caminhos que os tropeiros atravessavam.[6] Ceará e Paraíba eram tradicionais fornecedores de charque para a Bahia. [7] Outras feiras se realizam em Santana, Curralinho e Candepuba na Bahia,
Itabaiana e Brejo d’Areia na Paraíba, Campos de Santana e São Cristóvão no Rio
de Janeiro, Itapemirim mirim no Maranhão, Três Corações do Rio Verde, Benfica e
Sítio em Minas Gerais.[8] O historiador Capistrano de Abreu se refere a "Civilização do Couro"
para descrever a importância da pecuária no interior nordestino. A criação de
gado esteve diretamente ligada a viabilização de estradas que ligavam maranhão
à Bahia com prolongamentos pelo Piauí e Goiás. Salvador se integrava à chapada
Diamantina bem como os sertões de Ilhéus e Porto Seguro, ou seja, a criação de
gado foi um importante fator de integração nacional[9].
Para Roberto Simonsen: “foi o gado o
elemento de comércio por excelência por toda a hinterlândia brasileira, na
maior parte da fase colonial. Indústria mais pobre, relativamente, que a do
açúcar, apresentava, porém, uma feição caracteristicamente local, formadora de
gente livre e com capitais próprios. A indústria açucareira, com outra
organização social, funcionava, em grande parte com capitais da metrópole, aos
quais eram atribuídos os maiores
proventos. A produção da pecuária, e o seu rendimento ficavam incorporados ao
país. As suas feiras, entre as quais a de Sorocaba, exerceram uma função
inconfundível na formação de nossa infra estrutura econômica unitária, antes da
independência”.[10] No século XVII empreendedores como o padre Guilherme Pompeu de Almeida em
metalurgia e serralheria[11],
Gonçalo Lopes e Leonor Siqueira não eram exceções. A análise de testamentos e
inventários do século XVII realizada por John French mostra que as maiores
fortunas da época vinham do setor mercantil
e não de terras cultivadas.[12]
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