terça-feira, 4 de maio de 2021

Timbó e a a ecologia do período colonial

 

Na pesca os tupinambás usavam uma planta conhecida como timbó ou tingui que em contato com a água soltava uma espécie de entorpecente que intoxicava os peixes facilitando a pescaria à mão. Soltos novamente na água os peixes rapidamente se recuperavam, podendo ser consumido sem risco. [1] Anchieta relata ocasião em que se presenciou a mortandade de dez mil peixes de uma única vez por este método.[2] Na pesca os índios usavam o timbó para matar os peixes nos rios. [3] Segundo Gabriel Soares de Sousa: “Quando este gentio quer tomar muitos peixes nos rios d’água doce e nos esteiros d’água salgada, os atravessam com uma tapagem de varas, e batem o peixe de cima para baixo; onde lhe lançam muita soma de umas certas ervas pisadas, a que chamam timbó, com o que se embebeda o peixe de maneira que se vem acima d’água como morto; onde tomam às mãos muita soma dele”.[4]O curare era um veneno usado pela tribo dos Caverres no Orinoco era usado como veneno nas flechas e capaz de causar morte instantânea, uma receita guardada em segredo bem como os antídotos usados.[5] Antonio Muniz de Sousa destaca a depredação do meio de ambiente que o uso abusivo do timbó poderá causar: “A  ociosidade  no  Brasil  é  o  tronco  de  todos  os  vícios:  A  primeira  classe  dos  ociosos  se  aplica  à  caçada  e  à  pescaria,  no  que  não  tiram  utilidade  alguma, por  que,  não  ceando  os  campos  e  matos cultivados  abundância de  animais  silvestres,  como  antigamente,  gastam em  vão  o  tempo,  e  causam  um  notável  prejuízo,  e  de mais  o  mau  costume  de lançarem  tingui / timbó  nos poços  e  lagos, com  o  que  matam  todos  os  peixes  que  ali  há,  priva  aos mais  homens  do  socorro  de  que  lhes  pode   servir  tais  viventes;  e  faz  lástima  ver  aqueles  poços  esteirados  de peixes  podres  , rodeados  de  urubu”.[6] Os índios tupinambás do Rio de Janeiro usavam uma armadilha para peixes conhecida como jequiá, jequeí, ou jiqui para rios de águas calmas, feito com ripas de taquara entrelaçadas formando dois cestos superpostos, em que o cesto menor tem uma abertura que permite a passagem do peixe mas impede sua saída depois de atraído pela isca no cesto maior.

[1]SILVA, Rafael Freitas. O Rio antes do Rio. Rio de Janeiro:Babilônia, 2015, p. 126

[2] TOLEDO, Roberto Pompeu de. A capital da solidão, Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 187

[3] VARNHAGEN, Francisco Adolfo. História geral do Brasil, São Paulo:Melhoramentos, 1948, v. I, p. 40; SOUTHEY, Robert. Historia do Brasil, v. I. Rio de Janeiro:Garnier, 1862, p. 455

[4] MIRANDA. Carlos Alberto Cunha. A arte de curar nos tempos da colônia. Recife:UFPE, 2017, p.213

[5] SOUTHEY, Robert. História do Brasil, Brasília: Melhoramentos, 1977, v.1, p. 180

[6] SOUSA, Antonio Muniz. Viagens e observações de hum brasileiro, Rio de Janeiro: Typographia Americana, 1834, p.24 Biblioteca José Midlin



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