terça-feira, 4 de maio de 2021

O católico Fernão Dias Pais

A bandeira de 1629 de Raposo Tavares teria feito nove mil prisioneiros índios no Guaíra e os trazido para São Paulo dos quais muitos morreram pelo caminho. Novas incursões aumentaram o número de cativos para um total estimado entre trinta e sessenta mil. As primeiras missões atacadas foram a de Santo Antônio com uma fúria segundo o relato de jesuítas “com tal crueldade que não parecem ser cristãos, matando as crianças e velhos que não conseguem caminhar” inclusive cometendo assassinatos dentro das igrejas dos que ali se refugiavam.[1] Segundo relato do padre espanhol Justo Masilla: “Em que terra estamos, que vassalos de Sua majestade católica fazem guerra a vassalos da mesma majestade, também católicos, sem outro motivo senão fazê-los escravos e cativos ? Em que terra estamos, que se permite seja feito o que nem entre hereges e mouros se faz? “. Para o padre Mansilla São Paulo era uma vila “de gente desalmada e rebelde, que não faz caso nem das leis do Rei nem das de Deus”. Em 1637 com as missões do Guaíra destruídas por completo os bandeirantes liderados por Raposo Tavares e Fernão Dias Paes iniciam os ataques a tape mais ao sul com a mesma fúria destruidora, segundo o relato de reunião da Companhia de Jesus realizada em Córdoba “feras mamelucas, compostas todas de homens facínoras, ímpios e tolerados ladrões”.[2] Em 1650 Fernão Dias Paes banca a reconstrução da igreja dos beneditinos construída com o suor dos escravos índios apresados. Em retribuição do apoio financeiro e da amizade, os monges lhe concederam o privilégio de ser sepultado na capela-mor da igreja do mosteiro de São Bento em São Paulo. Os restos mortais de Fernão Dias repousam na cripta da atual igreja sob uma placa circular no chão da nave central junto ao altar onde também se encontram enterrados os restos de sua mulher, Maria Garcia Betim com a placa: “Grandes benfeitores desta abadia. Para este jazigo lhes trasladou os restos mortais. A gratidão beneditina. Agosto 1922”. Maria Leite da Silva, mãe de Fernão Dias Pais manda rezar setecentas missas para a alma do bandeirante.



[1]TOLEDO, Roberto Pompeu de. A capital da solidão, Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 164

[2]TOLEDO, Roberto Pompeu de. A capital da solidão, Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 168 



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