terça-feira, 4 de maio de 2021

As sandálias dos jesuítas

 

Na Companhia de Jesus o padre Jorge Esteves é apontado como primeiro carpinteiro, também encarregado de administrar fazendas de gado. No início do século XVII a Confraria dos Ofícios mecânicos no Colégio Jesuíta da Bahia contava com apenas oitenta membros.[1] O sapateiro Manoel Gomes é registrado em 1682 na Companhia de Jesus tendo exercido atividades de enfermeiro e farmacêutico. O padre Serafim Leite em sua História da Companhia de Jesus dedica um volume as Artes e Ofícios dos Jesuítas no Brasil no período 1549 a 1760. Os artesãos que sabiam consertar moendas e rodas d’ água dos engenhos de açúcar eram muito procurados.[2] José Anchieta foi um fabricador manual de alpercatas, o principal calçado utilizado pelos jesuítas no Brasil colonial: “e sou já bom mestre e tenho feito muitos para os irmãos, porque não se pode cá andar pelos matos com sapatos de couro”[3]. Em carta Manuel da Nóbrega informa: “Quase nenhuma das artes necessárias para o comércio da vida deixam de fazer os irmãos: fazemos vestidos, sapatos, principalmente alpercatas de um fio, como cânhamo, que nós outros tiramos duns cardos lançados na água e curtidos, cujas alpercatas, pela aspereza das selvas e das grandes enchentes de água, é necessário passar muitas vezes por grande espaço até a cinta, e algumas vezes até o peito, barbear, curar feridas, sangrar,  fazer casas e coisas de barro e outras semelhantes coisas que se buscam fora, de sorte que a ociosidade não tem lugar nesta casa”.[4] Entre os índios o uso de sandálias visava não apenas a proteção dos pés mas também para despistar o inimigo, e seu hábito conforme observa Sérgio Buarque de Holanda surge associado a entidades mitológicas como o curupira, de pés as avessas, presente principalmente do  imaginário dos povos tupi[5].

[1] SCHWARTZ, Stuart. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial. São Paulo: Cia das Letras, 1988, p. 37

[2] SCHWARTZ, Stuart. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial. São Paulo: Cia das Letras, 1988, p. 37, 38

[3] BARDI, Pietro Maria. Mestres, artífices, oficiais e aprendizes no Brasil, Banco Sudameris Brasil, 1981, p. 82; NASH, Roy. A conquista do Brasil. São Paulo:Cia Editora Nacional, 1939, p. 155; TOLEDO, Roberto Pompeu de. A capital da solidão, Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 106

[4] BRITO, José Gabriel Lemos. Pontos de partida para a história econômica do Brasil. Brasiliana v. 155, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1980, p.188

[5] AQUINO, Fernando, Gilberto, HIran. Sociedade brasileira: uma história, São Paulo: Record, 2000, p.207



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