O Brasil colonial do século XVIII, contudo, ainda era marcado pelo analfabetismo. Segundo Luiz Edmundo: “só os homens da alta burocracia e dos altos negócios e mais alguns oficiais da tropa sabiam ler e escrever. Mulheres ? todas analfabetas. Prenda de estimado valor; na hora de casar, verdadeira garantia da paz conjugal “Menina que sabe muito, É menina atrapalhada. Para ser mãe de família. Saiba pouco ou saiba nada”.[1] Nos inventários e testamentos pesquisados por Alcântara Machado em sua obra Vida e morte do Bandeirante constam apenas duas mulheres alfabetizadas.[2] Entre as mulheres destacavam-se as atividade de costureiras, rendeiras e bordadeiras.[3] As rendeiras tem sua origem com as poucas mulheres portuguesas que vieram ao Brasil colonial, em especial no Ceará e Santa Catarina, e que se reflete na renda de bilro ou de almofada[4] Segundo Heitor Lima a renda de bilro surgiu na Itália no século XV e trazida pelos portugueses rapidamente se aculturou na colônia e no aforismo popular: “onde há redes há rendas”[5] Quando em visita a uma fazenda em Mariana John Mawe demonstrou como fabricar manteiga pode observar “o pessoal da fazenda parecia muito satisfeito com o bom êxito da operação, mas tenho fortes dúvidas de que a adotassem depois de minha partida, porque são inimigos do trabalho e dos cuidados que ela exige”.[6] Em visita a uma outra fazenda no Rio Pardo pode observar que a senhora da casa interessou-se pela experiência, ela mesmo executando os trabalhos “raro exemplo de atividade e boa vontade!”. John Mawe irá encontrar nas mulheres a exceção à regra geral de um povo contrário à inovação: “fiquei firmemente convencido de que, se as brasileiras recebessem educação melhor, sobretudo no que se refere à economia doméstica, e estivessem habilitadas a ver tudo quanto diz respeito ao lar administrado com ordem e regularidade, se tornariam úteis à sociedade. Na verdade, constantemente observei nelas essa louvável curiosidade e esse desejo de instrução, que se pode chamar o primeiro passo para o aperfeiçoamento”.[7]
[1] EDMUNDO, Luiz. O Rio de
Janeiro no tempo dos vice reis, Rio de Janeiro:Conquista, 1956, v.1, p.360
[2]TOLEDO, Roberto Pompeu de. A capital da solidão, Rio de Janeiro: Objetiva,
2012, p. 189
[3] FLEXOR, Maria Helena.
Os ofícios mecânicos e os escravos. In: ARAUJO, Emanuel. Arte, adorno, design e
tecnologia no tempo da escravidão. Secretaria da Cultura de São Paulo, 2013,
p.67
[4] ARAÚJO, Alceu Maynard.
Folclore nacional III, São Paulo: Martins Fontes, 2004, p.316
[5] LIMA, Heitor Ferreira.
Formação industrial do Brasil, Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1961, p. 146
[6] MAWE, John. Viagens ao
interior do Brasil. São Paulo: USP, 1978, p. 135
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