quarta-feira, 19 de maio de 2021

O ócio na sociedade greco romana

 

Os gregos denominavam skholé, que significa ócio, ao lugar onde se reuniam para ouvir os ensinamentos dos filósofos.[1] Para Aristóteles os sujeitos a trabalhos necessários, tais como artesãos e comerciantes, se a serviço de um homem, não são livres e podem ser considerados escravos e para a formação da virtude e para a prática política, direitos dos cidadãos, é necessário o ócio (otium).[2] Segundo Pedro Funari: “ócio entre os gregos era um conceito, de origem aristocrática, que implicava precisamente a liberdade, eleutheria, que advém de não se ter obrigatoriamente que trabalhar. Mas liberdade para que ? Liberdade para participar da vida pública e para refletir sobre o mundo, para flanar (andar ociosamente), para dedicar-se a discussões estimulantes”.[3] Xenofonte destaca que “só os que podem criar os seus filhos para não fazerem nada é que os enviam à escola; os que não podem, não enviam”.[4] A escravatura aumentava o tempo livre dos romanos que tinham em grande conta a ociosidade.[5] Cícero (106 a.c. a 46 a.c.) e Sêneca (4 a.c. a 65 d.c.) exaltam o ócio como superior ao trabalho. O negócio de qualquer espécie (não otium) era a negação do ócio, ou seja, era visto como algo indesejável, próprio daqueles que não tem o controle de seu próprio tempo. Cícero critica os que precisam trabalhar para ganhar a vida: “O dinheiro que vem de vender o seu trabalho é vulgar e inaceitável para um cavalheiro, pois os soldos são efetivamente os grilhões da escravidão”.[6] Paul Veyne, contudo, destaca ao lado do ideal do ócio como característico da sociedade romana observa-se um conceito mais positivo do trabalho nos documentos de origem mais popular. Em Pompéia casas de padeiros e pisoeiros destacavam com orgulho seu ofício.



[1] FILHO, Adolfo Morales de los Rios. Teoria e filosofia da arquitetura, Rio de Janeiro: A Noite, 1955, p. 113

[2] MONDOLFO, Rodolfo. O pensamento antigo: desde Aristóteles até os neoplatônicos, São Paulo: Mestre Jou, 1973, p. 65

[3] FUNARI, Pedro. Grécia e Roma, São Paulo:Contexto, 2004, p.52

[4] BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação, Rio de Janeiro: Brasiliense, 1981, p. 40

[5] KITTO, Humphrey Davey Findley. Os gregos. Coimbra:Armenio Amado, 1970, p. 222

[6] BEARD, Mary. SPQR: uma história da Roma Antiga, São Paulo: Planeta, 2010, p. 435



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