quarta-feira, 19 de maio de 2021

A arte em Platão

 

Werner Jaeger explica o conceito de Platão sobre a imitação e a essência de uma obra exposto do capítulo 596 da República: “As coisas que os sentidos nos transmitem são reflexos das ideias, isto é, as cadeiras ou as mesas são reflexos ou imitações da ideia de cadeira ou de mesa, que é sempre única. O carpinteiro cria os seus produtos, tendo presente a ideia, como modelo. O que ele produz é a mesa ou cadeira, não a sua ideia. Uma terceira fase da realidade, além das da ideia e da coisa transmitida pelos sentidos, é a que representa o produto da arte pictórica, quando um pintor pinta um objeto [..] O pintor toma como modelo as mesas ou as cadeiras perceptíveis aos sentidos feitas pelo carpinteiro, e imita-as no seu quadro. Tal como alguém que pretendesse criar um segundo mundo, colocando a imagem deste no espelho, assim o pintor se limita a traçar a simples imagem refletida das coisas e da sua realidade aparente. Portanto, encarado como criador de mesas e cadeiras, é inferior ao carpinteiro, que fabrica mesas e cadeiras de verdade. E o carpinteiro é, por seu turno, inferior a quem criou a ideia eterna da mesa ou da cadeira, a qual serve de norma para fabricar todas as mesas e cadeiras do mundo. È Deus o criador último da ideia. O artífice produz só o reflexo da ideia. O pintor é, assim, o criador imitativo dum produto que, à luz da verdade, ocupa o terceiro lugar”. Nesse sentido uma invenção se aproxima ao conceito de “ideia eterna” citada por Platão e por definição propriedade sagrada, da qual o artífice, ou inventor, é mero imitador. [1] Na República de Platão VI “Acaso não sabeis que os geômetras utilizam as formas visíveis e falam delas, embora não se trate delas, mas destas coisas de que são um reflexo e estudam o quadrado em si e a diagonal em si, e não a imagem delas que desenham ? E assim sucessivamente em todos os casos. O que realmente procuram é poder vislumbrar estas realidades que apenas podem ser contempladas pela mente”.[2] Platão combateu as artes plásticas julgando-as afastadas do mundo das ideias.[3] Segundo Menendez Pelayo: “para Platão a arte só tem valor como obra útil enquanto imitação da beleza moral”.[4]



[1] JAEGER, Werner. Paideia, São Paulo:Ed. Herder, 1936, p.920

[2] LAWLOR, Robert. Geometria sagrada, Lisboa:Edições del Prado, 1996, p.9

[3] BOWRA, Maurice. Grécia Clássica, Rio de Janeiro: Livraria José Olympio, 1969, p. 148

[4] FILHO, Adolfo Morales de los Rios. Teoria e filosofia da arquitetura, Rio de Janeiro: A Noite, 1955, p. 54



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Doação de Constantino

  Marc Bloch observa a ocorrência de falsificações piedosas tais como a pseudo doação de Constantino ( Constitutum Donatio Constantini ) ao ...