O ministro da Agricultura Tsai Lun em 123 a.c. utilizando fibras de Morus Papyfera, Broussonetia Papyrifica, Codzum e bambu inventou o papel. Frances Gies mostra que o uso de fibras de feltro de lã trançadas em uma forma de peneira e suspensas em água foram primeiro manufaturadas na China e tiveram amplo uso no século III. O papel possivelmente foi produzido por acidente pelo entrançamento de fibras animais ou de plantas na produção de tecido.[1] Em 105 Ts’ai Lun[2] / Cai Lun[3], o cortesão do império chinês da Dinastia Han inventou o papel ao desenvolver um processo que misturava fibras de árvores e caules de trigo com a casca de um tipo de amoreira, triturando-as e colocando a mistura sobre um tecido trançado. Acredita-se que Ts’ai Lun partira de um método antigo de reciclagem de cânhamo e juta conhecido na China desde o século V a.c. Os pedaços mais antigos de papel datam de 110 a.c. que coincide com o relato de Ts’ai Lun. [4] O ideograma chinês para papel é o mesmo do usado para seda. As dinastias chinesas conseguiram manter a invenção em segredo até o início do século VII, quando técnicas similares surgiram no Japão e Coreia. Piganiol mostra que o livro com folhas, o códex, é uma invenção do século IV.[5] Em 610 o rei da Coreia enviou à China os sacerdotes Doncho e Hojo para aprenderem como fabricar papel, tendo inaugurado uma fábrica de papel na Coreia logo que retornaram. Em seguida a tecnologia chegou ao Japão, tendo a imperatriz Xotocu em 770 mandado imprimir um milhão de aforismos budistas para divulgação da religião.[6] O uso de papel higiênico é registrado na China do século VI, sendo que em 851 um viajante árabe desdenha da higiene dos chineses pelo uso da inovação[7]. Com a captura de chineses da cidade de Samarcanda[8], atual capital do Uzbezquistão, na Batalha do rio Tallas pelos árabes em 751, a tecnologia da fabricação do papel a partir do cânhamo e do linho de domínio de alguns prisioneiros chineses foi transferida aos árabes o que levou a primeira fábrica de papel construída em Bagdá em 795.[9] Brian Fagan observa que os papeis do século VIII do oeste da China eram feito da madeira da amoreira comum (Broussonetia papyrifera) enquanto que os árabes usavam outras plantas o que pode mostrar que o papel chegou a Asia central muito antes da conquista muçulmana.[10] No século IX foram construídas fábricas na Síria que se torna centro exportador do papel tipo Charta Damasceno.[11] As primeiras fábricas de papel da Europa foram fundadas pelos muçulmanos na Espanha em 1150 além da Sicília com a técnica aprendida de alguns prisioneiros de guerra chineses na luta em Samarcanda, no atual Uzbequistão, na antiga “rota da seda” no século VIII.[12] Uma antiga manufatura de papel na Europa foi estabelecida em Fabriano em 1270.[13] A origem espanhola se denota na origem do árabe rizma, que deu origem no francês arcaico a rayme, ou “resma” em português ara o conjunto de folhas de papel.[14]
[1] GIES,
Frances & Joseph. Cathedral, forge and waterwheel, New York: Harper
Collins, 1994, p. 59
[2] http://en.wikipedia.org/wiki/Cai_Lun
[3] FAGAN, Brian. Los
setenta grandes inventos y descobrimentos del mundo antiguo, Barcelona:Blume,
2005, p. 233
[4] READERS'S DIGEST. Da
idade do ferro à idade das trevas: de 1200 a.c. a 1000 d.c, Rio de Janeiro,
2010, p.82
[5] NUNES, Ruy Afonso da
Costa. História da educação na idade média, Campinas:Kirion, 2018, p.96
[6] MELLO, José Barboza. Síntese
histórica do livro. Rio de Janeiro:Ed. Leitura, 1972, p. 98
[7]GIES,
Frances & Joseph. Cathedral, forge and waterwheel, New York: Harper
Collins, 1994, p. 96
[8] CANTU, Cesare. História
Universal, v. IV, São Paulo:Editora das Américas, 1958, p.221
[9] MOKYR, Joel. The lever
of riches: technological creativity and economic progress, New York:Oxford
University Press, 1990, p.41; SEDGWICK, W.; TYLER, H; BIGELOW, R. História da
ciência: desde a remota antiguidade até o alvorescer do século XX, Rio de
Janeiro:Ed. Globo, 1952, p.170; LYONS, Jonathan. A casa da sabedoria, Rio de
Janeiro: Zahar, 2011, p.82; CAMP, L. Sprague de. The
ancient engineers, New York: Ballantine Books, 1963, p. 323; GIES, Frances
& Joseph. Cathedral, forge and waterwheel, New York: Harper Collins, 1994,
p. 97
[10] FAGAN, Brian. Los
setenta grandes inventos y descobrimentos del mundo antiguo, Barcelona:Blume,
2005, p. 234
[11] MELLO, José Barboza.
Síntese histórica do livro. Rio de Janeiro:Ed. Leitura, 1972, p. 98
[12] RONAN, Colin. História
Ilustrada da Ciência: Da Renascença à Revolução Científica. v.3, São
Paulo:Jorge Zahar, 2001, p.9; COON, Carleton. A história do homem. Belo
Horizonte:Itatiaia, 1960, p.317; BRAUDEL, Fernand. Civilização material e
capitalismo, séculos XV-XVIII, Rio de Janeiro:Cosmos, 1970, p.327; LEWIS,
Brenda. Great civilizations, Parragon:London, 1999, p.84; PASQUALE, Giovanni. A
cultura tecnológica islâmica: novas técnicas, traduções e artefatos
prodigiosos. In; ECO, Umberto. Idade média: bárbaros, cristãos e muçulmanos,
v.I, Portugal:Dom Quixote, 2010, p.470; DERRY, T.; WILLIAMS, Trevor. Historia
de la tecnologia: desde la antiguidade hasta 1750, Mexico:Siglo Vintuno, 1981,
p.337; PLAJA, Guillermo Diza,O livro ontem, hoje e aanahã, Rio de Janeiro:Salvat,
1979, p.29; MELLO, José Barboza. Síntese histórica do livro. Rio de Janeiro:Ed.
Leitura, 1972, p. 100
[13] FREMANTLE, Anne. Idade
da fé. Biblioteca de História Universal Life. Rio de Janeiro:José Olympio,
1970, p.184; MURRAY, Alexander. Razão. In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean
Claude. Dicionário analítico do Ocidente medieval. v.II, São Paulo:Unesp, 2017,
p. 431
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