domingo, 9 de maio de 2021

Imigrantes italianos no Brasil

 

Em 1875 ainda nas primeiras levas de imigrantes italianos o jornal Il Seculo de Milão se referia à imigração para o Brasil como “comércio de carne humana”, com muitos imigrantes alojados nas antigas senzalas e não~raras vezes submetidos a sessões de espancamento.[1] Em 1877 chegou o primeiro grande grupo de imigrante italianos em São Paulo com mais de duas mil pessoas. Um verso ilustra os sentimentos do imigrante que aqui chegava: “No Brasil não há patrões / Cada um é patrão de si / Em sua casa quem manda é o colono / e se julga igual a um rei”.[2] Pedro Calmon destaca que “Depois de 1870, e em consequência do aumento das correntes imigratória, São Paulo passara a caracterizar o seu progresso pelo industrialismo, numa multiplicação de iniciativas que já fazia prever o empório do século XX. Abre-se ali, mais rudemente do que nas outras províncias, o conflito entre a lavoura escravagista, cujo núcleo central era Campinas, e a moderna indústria. Estabelece-se a <mentalidade das inovações>, isto é, a condição econômica para um novo regime”.[3] A Prússia proibiu a vinda de imigrantes ao Brasil e o governo italiano emitiu em 1885 uma recomendação desaconselhando a vinda ao Brasil.[4] Rodrigues de Azevedo, fazendeiro de Lorena apenas um ano antes da abolição da escravatura apresenta seu depoimento: “Infelizmente o Norte não é igual ao Oeste, onde a uberdade [fertilidade] da terra e a grande produção convidam ao trabalho livre e dão-lhe compensação. Aqui não temos e nem poderemos ter colonização tão cedo, enquanto não houver uma transformação na cultura, não se pode dispensar o braço escravo ou nacional”.[5] Em 1886 ricos cafeicultores paulistas fundaram a Sociedade Promotora da Imigração com todos os custos de transporte e estadia na Hospedaria dos Imigrantes no Brás, junto aos trilhos da estrada de ferro Santos Jundiaí. A Hospedaria era obra do presidente da província conde de Parnaíba e que veio a se tornar o Memorial do Imigrante[6] em 1998 e, finalmente, a renomeação para Museu da Imigração em 2011.[7] Os custos eram cobertos pelo governo provincial sem qualquer ônus ao fazendeiro. Tania Luca observa que não por acaso, somente após aproveitarem essa política de imigração subvencionada, onde podiam se preparar para substituição da mão de obra escrava, os fazendeiros acabaram postergando a abolição. [8]

[1] TOLEDO, Roberto Pompeu de. A capital da solidão, Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 435

[2] PETRONE, Maria Thereza Schorer. O imigrante e a pequena propriedade, São Paulo: Brasiliense, Coleção Tudo é história, v.38, p. 52

[3] CALMON, Pedro. História da Civilização Brasileira. São Paulo:Cia Editora Nacional, 1937, p.301

[4] GOMES, Laurentino, 1889, Rio de Janeiro: GloboLivros, 2013, p.82

[5] HOLANDA, Sérgio Buarque. O Brasil monárquico: reações e transações, t.II, v.3, São Paulo:Difusão Europeia, 1967, p.164, 175

[6] http://museudaimigracao.org.br/sobre-o-mi/historia

[7] TOLEDO, Roberto Pompeu de. A capital da solidão, Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 435

[8] LUCA, Tania Regina de. Indústria e trabalho na história do Brasil, São Paulo:Contexto,2001, p.16



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