Em
1875 ainda nas primeiras levas de imigrantes italianos o jornal Il Seculo
de Milão se referia à imigração para o Brasil como “comércio de carne humana”,
com muitos imigrantes alojados nas antigas senzalas e não~raras vezes
submetidos a sessões de espancamento.[1] Em 1877 chegou o primeiro grande grupo de imigrante italianos em São Paulo com
mais de duas mil pessoas. Um verso ilustra os sentimentos do imigrante que aqui
chegava: “No Brasil não há patrões / Cada um é patrão de si / Em sua casa
quem manda é o colono / e se julga igual a um rei”.[2] Pedro Calmon destaca que “Depois de 1870,
e em consequência do aumento das correntes imigratória, São Paulo passara a
caracterizar o seu progresso pelo industrialismo, numa multiplicação de
iniciativas que já fazia prever o empório do século XX. Abre-se ali, mais
rudemente do que nas outras províncias, o conflito entre a lavoura
escravagista, cujo núcleo central era Campinas, e a moderna indústria.
Estabelece-se a <mentalidade das inovações>, isto é, a condição econômica
para um novo regime”.[3] A Prússia proibiu a vinda de imigrantes ao Brasil e o governo italiano emitiu
em 1885 uma recomendação desaconselhando a vinda ao Brasil.[4] Rodrigues de Azevedo, fazendeiro de Lorena apenas um ano antes da abolição da
escravatura apresenta seu depoimento: “Infelizmente
o Norte não é igual ao Oeste, onde a uberdade [fertilidade] da terra e a grande
produção convidam ao trabalho livre e dão-lhe compensação. Aqui não temos e nem
poderemos ter colonização tão cedo, enquanto não houver uma transformação na
cultura, não se pode dispensar o braço escravo ou nacional”.[5] Em 1886 ricos cafeicultores paulistas fundaram a Sociedade Promotora da
Imigração com todos os custos de transporte e estadia na Hospedaria dos Imigrantes
no Brás, junto aos trilhos da estrada de ferro Santos Jundiaí. A Hospedaria era
obra do presidente da província conde de Parnaíba e que veio a se tornar o
Memorial do Imigrante[6] em 1998 e, finalmente, a renomeação para Museu da Imigração em 2011.[7] Os custos eram cobertos pelo governo provincial sem qualquer ônus ao
fazendeiro. Tania Luca observa que não por acaso, somente após aproveitarem
essa política de imigração subvencionada, onde podiam se preparar para
substituição da mão de obra escrava, os fazendeiros acabaram postergando a
abolição. [8]
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