Jacob Gorender mostra que o
Estado de Daomé na área do atual Benin surgiu por conta do desenvolvimento do
comércio negreiro no século XVII fundado no mopólio estatal.[1] A região litorânea em torno de Daomé era conhecida pelos europeus, o nome de
Costa dos Escravos. Foi do Porto de Uidá, o mais importante porto negreiro da
África Ocidental, que saiu mais de um milhão de escravos desde o século XVII. A
conquista de Uidá porto pelo reino escravagista e expansionista do Daomé, em
1727, viria a confirmar sua posição inicial de principal porto do tráfico
negreiro na região, situação que manteve, até meados do século XIX.[2] Segundo Bethwell Ogot: “Como no caso do reino
do Daomé ou da Confederação ashanti, não se pode compreender a evolução da
história do Futa Djalon fora do contexto global do tráfico negreiro, dominante
no comércio transatlântico. Esses reinos, constituídos de início para reagir
contra as desastrosas consequências da caça de cativos, consolidaram‑se e acabaram participando de forma proveitosa de tal
comércio, quer porque queriam se defender contra os reinos vizinhos, quer
porque estavam atraídos pelo lucro [..] O reino fon do Daomé ilustra um outro
tipo de participação do trato, que consistia no ativo fornecimento de escravos
aos negreiros. Os aro e seus aliados mercenários desempenharam um papel
semelhante no país Igbo. Podemos caracterizá-los como caçadores de homens.
Parece que tais comunidades beneficiaram-se com o trato, contudo, em detrimento
de um desenvolvimento normal de seu sistema social, político e moral, arruinado
face à violência provocada pelo tráfico dos escravos”.[3] Peukert, contudo, critica diretamente que a história do Daomé tenha sido
determinada pelo tráfico negreiro.
[1] FLORENTINO,
Manolo. Em costas negras, São Paulo: UNESP, 2014, p. 76
[2] SILVA. Marinelia Sousa da. Movimentos
na História: Notas sobre a Historiografia da Costa dos Escravos, Sankofa.
Revista de História da África e de Estudos da Diáspora Africana Ano III, Nº 5,
julho/2010
[3] UNESCO, História Geral da Africa, parte V. Comitê Científico Internacional da
UNESCO para Redação da História Geral da África, 2010, p.345
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