Enquanto os bandeirantes são representados, dentro de
uma perspectiva ufanista, calçados com botas de montar, vestidos com calções de
veludo e casacas de couro almofadado, em “Capítulos de História do Império”,
Sérgio Buarque de Holanda destaca que os modos selvagens dos bandeirantes
paulistas, que costumavam andar descalços pelas matas em busca de índios e
riquezas, causavam estranheza entre os portugueses. Em Minas Gerais o uso do
termo indígena “emboaba” em referência aos pés descalços do natural da
vila de São Paulo de Piratininga, quando dirigido ao português que andava
normalmente calçado era considerado um insulto gravíssimo.[1] Pizarro
e Araújo se referem aos emboabas como galinhas que tinham as pernas cobertas de
plumas e se diziam calçadas tal como os forasteiros e portugueses que usavam
botas enquanto os paulistas andavam descalços.[2] Em São
Paulo os índios apresados pelos bandeirantes tinham como destino as fazendas de
gado e de trigo do planalto paulista e muito secundariamente para os engenhos
de açúcar do Rio de Janeiro e nordeste.[3] Contratado
pelo governador de Pernambuco para liquidar com o quilombo de Palmares,
Domingos Jorge Velho ao ser recebido em 1694 pelo bispo de Olinda, d. Francisco
de Lima, este ficou horrorizado “era o maior selvagem com quem já havia
topado”.[4]
[1] SCHWARTZ, Lilia;
STARLING, Heloisa. Brasil: uma biografia, São Paulo: Cia das Letras, 2015, p. 112
[2] RODRIGUES, José Honório. História da história do Brasil, São Paulo: Cia Editora
Nacional, 1979, p.335
[3] TOLEDO, Roberto Pompeu
de. A capital da solidão, Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 153
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