sábado, 22 de maio de 2021

A arte de furtar

 

O padre Antonio Vieira destaca o entrelaçamento de interesses religiosos e mercantilistas: “Se não houvessem mercadores que fossem procurar os tesouros da terra no Oriente e nas Índias Ocidentais, quem transportaria para lá os pregadores que levam o tesouro celeste ?”.[1] Por outro lado no sermão da Visitação de Nossa Senhora pregado no Hospital da Misericórdia da Bahia em 1640, Antonio Vieira se queixa da ambição dos portugueses: “Perde-se o Brasil, Senhor (digamo-lo em uma palavra), porque alguns ministros de Sua Majestade não vêm cá buscar o nosso bem, vêm cá buscar os nossos bens”.[2] Na Capela Real Antonio Vieira volta ao tema destacando a diferença dos ladrões agentes públicos os quais “não são aqueles miseráveis a quem a pobreza e vileza de sua fortuna condenou a este gênero de vida [..] os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título, são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões, ou o governo das províncias ou a administração das cidades, os quais já com mana, já com força, roubam e despojam os povos. Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos; os outros furtam debaixo do seu risco, este sem temor, nem perigo; os outros se furtam, são enforcados, estes furtam e enforcam”.[3] Em A arte de furtar escrito em 1652 mas só publicada em 1744, obra atribuída ao padre Antonio Vieira ou talvez Antonio de Sousa Macedo, é feita uma denúncia contra a venalidade dos administradores portugueses da metrópole.[4]

[1] BOXER, Charles. O império Colonial português, Lisboa:Edições 70, 1969, p.81

[2] MARTINS, Wilson. História da inteligência brasileira, v.I (1550-1794), São Paulo:USP, 1976, p. 181

[3] MARTINS, Wilson. História da inteligência brasileira, v.I (1550-1794), São Paulo:USP, 1976, p. 195

[4] RODRIGUES, José Honório. História da história do Brasil, São Paulo: Cia Editora Nacional, 1979, p.374




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