A numeração entre os índios não passava de cinco
segundo Lery: “Quanto aos algarismos, não
passam de cinco. Devido a isso, utilizam-se de castanhas de caju, cujo fruto
torna-se maduro apenas uma vez por ano, em vez de calendário, para arcar o ano
[...] Por isso quando se deseja saber deles há quanto tempo aconteceu isso ou
aquilo ou a idade desta pessoa tem de se perguntar pelo número de castanhas”.[1] Hervás
relata que o guarani usava a denominação genérica tuba, que significa “muito” para contagens acima de trinta.[2] No tupi
o número um é jepê, o número dois mocoi, o número três é uma composição moçopir ou “além do dois”, do numeral dois em diante todos os números são
compostos.[3] Robert
Southey refere-se aos cinco primeiros números como auge-pe, moconein, mossaput, oioicondie, econecoinbo de modo que
não procede a informação de que inexistem palavras em tupi para números
superiores a três.[4] Georges Ifrah observa que esta é uma característica de outras sociedades
primitivas e que se reflete por exemplo no francês em que a palavra trois (três) se aproxima de très (muito), no italiano troppo
(demais) ou do latim trans que
significa “além de”.[5] O ano
romano primitivo designava apenas os quatro primeiros meses com nomes
particulares (Martius, Aprilis, Maius,
Junius) os demais eram referência aos números ordinais: Quintilis, Sextilis, September, October,
November, December.[6] No
sistema de contagem romano os três primeiros números são representados por
traços simples, da mesma forma que a notação maia usa pontos. No sistema
arábico sua origem remonta o sistema indiano que representava os três primeiros
números como traços horizontais. Quando as pessoas começaram a escreve sem tira
a pena do papel, rapidamente o padrão se modificou para os atuais 1, 2 e 3, em
que o traço para um tornou-se vertical.[7] As
tribos do Orinoco contam até cinco, passam a cinco e um, cinco e dois até dois
cinco, e assim por diante até quatro cincos [8]. Lancelot
Hogben observa que a necessidade de se contar números maiores entre comunidades
neolíticas se observou apenas quando estas comunidades desenvolveram a criação
de gado e ovelhas [9].
Keith Devlin mostra que o cérebro humano reconhece os números de um a três por
um mecanismo diferente do mecanismo utilizado para compreender números maiores.[10] Jean
Léry relata uma conversa com um morubixaba tupinambá que sugere o conhecimento
e a contagem do movimento lunar: “É certo
que dissestes coisas maravilhosas e bonitas que nunca ouvimos, vosso discurso
entretanto nos lembra o que muitas vezes ouvimos de nossos avós, isto é, que há
muito tempo, já não sei quantas luas, um maior como vós, e como vós vestido e
barbado, veio a este país e com as mesmas palavras procurou-nos persuadir-nos a
obedecer o vosso Deus”.[11] Na
língua tupi guarani “pyahu açu”
significa “novidade grande”.[12] Sérgio
Buarque de Holanda refere-se a carta de Bartolozzi que menciona Vespúcio
segundo o qual os índios do Brasil contavam o tempo em meses lunares e se
valiam de pequenas pedras para indicar idades. Com o auxílio de tais pedras o
índio pode mostrar que vivera 1700 lunares, e tomando-se 13 lunações por ano,
isso equivaleria a aproximadamente 132 anos o que corresponde ao relato de
outros exploradores estrangeiros. [13]
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