Um censo de libertos realizado em Santana na Bahia em
1849 mostra que entre os escravos libertos apenas 18% tinham ocupações mais
especializadas como carpina ("Carpina" tem origem no tupi karapina,
uma variedade de pica-pau. O termo passou a ser aplicado também ao ofício de
carpinteiro, por ambos trabalharem a madeira), pedreiro, sapateiro, alfaiate,
que em geral remuneravam melhor em média quase o dobro de barbeiro, roceiro,
acendedor de lampiões ou carregador de cadeira por exemplo.[1] Alguns
destes libertos possuíam escravos como mostrou Inês de Oliveira que observou
que numa amostra de 492 de libertos (1790-1890) na Bahia que deixaram
testamento, possivelmente os mais abastados, cerca de 63% possuíam escravos.[2] No censo
de Santana de 1849 entre os libertos foram registrados 22% com escravos, a
grande maioria trabalhava com o auxílio de seu único escravo. A nagô Veridiana
Maria de Lima vivia da renda proporcionada pelos seus oito escravos. Um dos participantes
da revolta dos Malês em 1835 Luís Xavier é apontado como tendo oito escravos.[3] Segundo
Inês de Oliveira “os ganhadores [escravos de ganho] gozavam de uma liberdade
de movimentos muito mais ampla do que os escravos domésticos, submetidos à
vigilância contínua direta dos senhores. Organizavam-se em grupos, os cantos,
situados em locais previamente determinados pela municipalidade e geralmente
com predominância de um grupo étnico”.[4] João
José Reis mostra que na revolta dos malês em 1835 na Bahia, os escravos envolvidos
foram punidos com diferentes penas. Em geral os senhores aceitavam as penas de
açoites recebidas pelos escravos. Entretanto há casos de senhores que recorriam
nos Tribunais em defesa de seus escravos. José da Sila Romão apelou em favor de
seu escravo nagô Joaquim, sapateiro condenado a quinhentos açoites. João José
Reis observa que tais recursos não eram feitos meramente por interesse
econômico visto que o rico de morte era mínimo e havia um custo em entrar com
tais recursos na Justiça: “parece que eles entendiam ser sua
responsabilidade cuidar do bem estar de seus escravos, talvez para
recompensá-los por bons serviços e lealdade. Essa atitude não pode ser
confundida com a daqueles que claramente apelaram de sentenças que implicavam
perdas econômicas irrecuperáveis”.[5]
[1] REIS, João José.
Rebelião escrava no Brasil: a história do levante dos malês em 1835, São Paulo:
Cia das Letras, 2012, p. 369
[2] REIS, João José.
Rebelião escrava no Brasil: a história do levante dos malês em 1835, São Paulo:
Cia das Letras, 2012, p. 267
[3] REIS, João José.
Rebelião escrava no Brasil: a história do levante dos malês em 1835, São Paulo:
Cia das Letras, 2012, p. 488
[4] OLIVEIRA, Maria Inês
Cortês. O liberto o seu mundo e os outros Salvador 1790-1890, Tese Mestrado
Ciências Sociais, UFBA, 1979, p.57
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