sexta-feira, 16 de abril de 2021

O uso do mercúrio da mineração colonial

 

Na descrição das técnicas usadas na mineração na colônia Eschwege em Pluto Brasiliensis mostra dúvidas quanto à época que rodas elevatórias utilizando força hidráulica teriam sido introduzidas no auxílio à mineração no Brasil. Em Itabira Eschwege projetou um roda elevatória hidráulica para otimizar a produção do ouro e que consistia de uma roda de engrenagem fixa no eixo da um roda hidráulica, integrado a pilões, usados para processar o minério aurífero. Ainda existe um exemplar deste engenho no Museu do Ouro, em Sabará.[1] João Maurício Rugendas no livro Viagem pitoresca ao Brasil publicado em 1835 escreve: “tanto do ponto de vista técnico como das leis que o regulam, a exploração de ouro ainda se encontra no mesmo estado em que se achava na época da descoberta dessas regiões”. Segundo Julio Katinsky o ouro foi explorado por instrumentos grosseiros como a pesada gamela de madeira também conhecida como bateia, ou pela “lavagem” de encostas auríferas em grandes tanques[2]. Charles Boxer destacava o primitivo processo de lavagem e peneiração para extração do ouro e que usava como único instrumento a bateia.[3] Segundo o viajante inglês do século XIX Richard Burton os garimpeiros que extraíam o ouro de aluvião eram conhecidos como “faiscadores”[4] em referência às pepitas de ouro que eram como faíscas em meio à lama.[5] O uso do mercúrio ocorre apenas no final do ciclo do ouro[6] o que elevou significativamente a prutividade na extração do metal.[7] Por volta de 1550 já se utilizava o mercúrio para separar a prata do minério nas minas de Potosi.[8] O metalurgista Bartolomeu de Medina criou o método “beneficio del pátio” uma técnica para separar a prata de outros minerais com uso do mercúrio. [9] Em relatório de 1799 Veloso Miranda se queixa da ausência de planejamento da atividade mineira “falta também um meio de se fazer um cálculo sobre uma mina e segurarem os mineiros quanto é possível dos seus interesses antes de fazerem grandes, mas inúteis ou melhor diria, prejudiciais serviços”.[10] Pandiá Calógeras em parecer de 1904 à Câmara dos Deputados sob título “As minas do Brasil” faz um levantamento histórico de tais técnicas.



[1] http://monlewood.blogspot.com.br/2010/01/historia-das-minas-de-ouro-e-diamante-o.html

[2] KATINSKY, Julio. A técnica e sua história. In: ARAUJO, Emanuel. Arte, adorno, design e tecnologia no tempo da escravidão. Secretaria da Cultura de São Paulo, 2013, p.91

[3] BOXER, Charles. A idade de ouro do Brasil: dores de crescimento de uma sociedade colonial. São Paulo:Cia Editora Nacional, 1969, p. 61

[4] SIMONSEN, Roberto. História Econômica do Brasil, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1962, p.274

[5] BURTON, Richard Francis, 1821-1890. Viagem do Rio de Janeiro a Morro Velho / Richard Burton ; tradução de David Jardim Júnior. – Brasília : Senado Federal, Conselho Editorial, 2001. http://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/1116

[6] SIMONSEN, Roberto. História Econômica do Brasil, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1962, p.286

[7] FURTADO, Celso. Criatividade e dependência na civilização industrial, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978, p. 140

[8] HOFFNER, Joseph. Colonialismo e evangelho, São Paulo:USP, 1973, p.171

[9] COSTA, Marcos. O livro obscuro do descobrimento do Brasi, Rio de Janeiro:Leya, 2019, p. 138

[10] LINS, Fernando Antonio de Freitas. Brasil 500 anos – a construção do Brasil e da América Latina pela mineração. Rio de Janeiro:CETEM, 2000, p. 31



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Doação de Constantino

  Marc Bloch observa a ocorrência de falsificações piedosas tais como a pseudo doação de Constantino ( Constitutum Donatio Constantini ) ao ...