A conquista de Constantinopla pelos turcos otomanos em 1453 fez com que Veneza obtivesse deles o monopólio do comércio das especiarias para a Europa. Com a expansão otomona os pedágios cobrados para o transporte de especiarias elevaram em torno de 800% o custo pelas rotas tradicionais.[1] A pimenta vendida a três cruzados o quintal na Índia, era comercializada no Egito a oitenta cruzados e a muito mais em Veneza. O preço da pimenta que na Índia era de dois cruzados ou três cruzado o quintal multiplicava-se por trinta ou quarenta antes de passar às mãos dos venezianos. Em Lisboa era vendida a 40 ducados. Em 1503 a esquadra de Vasco da Gama trazia para Lisboa 36 mil quintais de especiarias como pimenta, canela, gengibre e noz moscada além de pedras preciosas e pérolas. [2] Roberto Simonsen estima que a pimenta da Índia era comercializada no mercado de Antuérpia por um preço vinte vezes superior o seu custo no país de origem[3]. As notas rotas comerciais pelo Atlântico conduziram à ativação econômica da região de Flandres em concorrência as tradicionais rotas terrestres pelo Levante controlada pelos venezianos.[4] Em Lisboa a pimenta era vendida de dez a quinze vezes o preço do produto na Índia, o que garantia enormes lucros aos portugueses[5]. A conquista da nova rota comercial com as Índias conquistada pelos portugueses fizeram baixar muito o preço das especiarias na Europa, em especial a pimenta [6], muito embora seja um erro imaginar que a rota de especiarias através do Egito e Arábia tenha cessado abruptamente.[7] Em 1503 o preço da pimenta em Lisboa era apenas um quinto do de Veneza [8]. Erasmo envia carta ao rei português queixando-se das elevadas taxas de lucro no comércio da pimenta [9]. Em 1512 a conquista das ilhas Molucas na Indonésia pelo governador da India portuguesa Afonso de Albuquerque (1509-1515), a ilha das especiarias, transformou Lisboa em um centro do comércio ultramarino.[10] As conquistas portuguesas foram confirmadas pelas bulas Precelsae devotionis (1514) e Praeclara charissimi (1551), que confirmavam e mandavam observar o Tratado de Tordesilhas. O reconhecimento espanhol da conquista portuguesa das Molucas viria apenas em 1529 com a capitulação de Saragoça pela qual a Espanha cedia os direitos as Molucas mediante uma indenização de Portugal. O controle do golfo pérsico viria com a conquista de Ormuz em 1515. O monopólio do porto de Lisboa leva a Veneza em 1515 a comprar de Lisboa a pimenta que necessitava para consumo interno. As rotas tradicionais chegaram a ser reestabelecidas no final do século XVI superando a nova rota vinda dos navios portugueses[11]. Fernand Braudel observa que os venezianos recuperaram a rota de especiarias pelo Egito cerca de vinte e cinco anos após a viagem de Vasco da Gama, depois de terem sem sucesso tentado participar financiando a aventura dos descobrimentos.[12] As especiarias como a pimenta eram cobiçadas porque usadas para preservar o gosto dos alimentos que para se conservarem eram submetidos a um processo de salga que os tornava intragável. O gado tinha de ser abatido no inverno porque os animais não conseguiam pasto nos meses frios de modo que a única forma de conservar sua carne nos longos meses de inverno era a salga. Além disso as especiarias serviam de condimento para diversos alimentos além de terem funções medicinais.[13] Estima-se que no primeiro terço do século XVI os carregamentos de especiarias trazidos pelos portugueses somavam 40 mil a 50 mil quintais por ano, sendo que de pimenta era em torno de 20 a 30 mil quintais. Ainda em 1611 os documentos oficiais apontam Lisboa tendo a pimenta como principal produto do comércio com a Índia e que ainda oferecia um lucro satisfatório para a Coroa.[14] Oliveira Marques observa a partir de meados do século XVI o comércio de especiarias declinou consideravelmente. Em 1642 a liberdade de comércio foi definitivamente restabelecida, à exceção da canela, considerada a especiaria por excelência, que continuou sob controle do monopólio pela Coroa. [15] Celso Furtado mostra que por esta época o preço da pimenta já se reduzira à metade o que levou ao fechamento da rota terrestre do Levante.[16]
[1] AQUINO,
Fernando, Gilberto, Hiran. Sociedade brasileira: uma história, São Paulo:
Record, 2000, p.87
[2] VASCONCELLOS, Ernesto; GAMEIRO, Alfredo; MALHEIROS, Carlos. In: História da
Colonização Portuguesa no Brasil, Edição Monumental Comemorativa do Centenário
de Independência do Brasil, Porto, Litografia Nacional, 1921, Primeira Parte: O
descobrimento, V.1 Os precursores de Cabral, p. CXXVI
[3] SIMONSEN, Roberto.
História Econômica do Brasil, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1962, p.39
[4] FURTADO,
Celso, Criatividade e dependência, Rio de Janeiro:Paz e Terra, 1971, p. 140
[5] FURTADO,
Celso, Criatividade e dependência, Rio de Janeiro:Paz e Terra, 1971, p. 138
[6] COSTA, Sergio Correa
da. Brasil, segredo de Estado, São Paulo:Record, 2001, p. 72
[7] CAMERON, Rondo. A
concise economic history of the world, New York:Oxford University Press, 1998,
p.121
[8] BOORSTIN,
Daniel. Os descobridores, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1989, p.171
[9] FURTADO,
Celso, Criatividade e dependência, Rio de Janeiro:Paz e Terra, 1971, p. 139
[10] ALBUQUERQUE, Manoel. Pequena história da formação social brasileira, Rio de
Janeiro: Graal, 1981, p. 156; BOXER, Charles. O império colonial português
(1415-1825). Lisboa:Edições 70, 1960, p. 65
[11] CAMERON, Rondo. A concise economic history of the
world, New York:Oxford University Press, 1998, p.142
[12] FURTADO, Celso,
Criatividade e dependência, São Paulo:Cia das Letras, 2008, p. 176
[13] MIGLIACCI, Paulo. Os
descobrimentos: origens da supremacia europeia, São Paulo:Scipione, 1994, p. 37
[14] BOXER, Charles. O império colonial português (1415-1825). Lisboa:Edições 70,
1960, p. 75
[15]MARQUES,
Oiveira. Brevíssima história de Portugal. Rio de Janeiro: Tinta da China, 2016,
p. 106
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