Sérgio Buarque de Holanda se refere as constantes falsificações de pesos em medidas no comércio do ouro[1]. Em 1731 foi descoberta uma fundição clandestina em Paraopeba para fabricação de moedas falsas comandada por Inácio de Sousa Ferreira envolvendo membros da Corte, caso de enorme repercussão na época tanto na colônia como na metrópole.[2] Uma vez preso e enviado a Lisboa, o próprio Inácio de Souza Ferreira confessou as relações do governador das Minas D. Lourenço de Almeida com o contrabando de ouro e diamante.[3] Charles Boxer relata que o contrabando de ouro foi frequente em todos os níveis.Segundo depoimento de lorde Tyrawly em 1732: “Os comerciantes das Minas, considerando estes impostos muito pesados decidiram durante vários anos correr o risco, o que tem feito aqui com grande êxito, e o ouro que tem trazido dessa maneira clandestina, tanto em pó como em barra, tem sido comprado principalmente pelos nossos agentes ingleses, e é com ele que a nossa Casa da Moeda da Torre tem sido de tempos em tempos tão bem fornecida”. [4] Antonil em Cultura e opulência do Brasil de 1711 registra que o ouro declarado às autoridades portuguesas não representava um terço do efetivamente produzido. Segundo Vitorino Magalhães Godinho, após analisar os arquivos de entrada de ouro da Casa da Moeda de Lisboa estima que no começo do século XVIII o contrabando chegava a 14,5 toneladas ao ano, o que leva a Celso Furtado estimar que de 1700 a 1720 tenha saído mais ouro do Brasil do que em todas as colônias espanholas nos dois séculos de colonização.[5] Os dados contudo divergem entre os pesquisadores. Stuart Schwartz por sua vez entre 1700-1710 estima que foram extraídas 2700 toneladas enquanto que Beatriz Nizza da Silva estima em 5880 toneladas. Diante de tanta imprecisão nos registos Leonor Freire Costa conclui: “Fique-se com o exemplo para se ter uma ideia de como o desconhecimento das quantidades descarregadas em Portugal não é apenas fruto de fontes pouco credíveis”.[6]
[1] HOLANDA, Sérgio Buarque
de. Monções. São Paulo:Brasiliense, 2000, p. 112
[2] AQUINO, Fernando,
Gilberto, HIran. Sociedade brasileira: uma história, São Paulo: Record, 2000,
p.219
[3] TÚLIO, Paula Regina
Albertini. Lavras sem paga: redes de contrabando e cristãos novos nas minas
setecentistas 1700-1735, Tese Doutorado, Unirio, 2019
[4] BOXER, Charles. O
império colonial português, Lisboa: Edições 70, 1969, p. 320
[5] FURTADO, Celso. Criatividade e dependência na civilização industrial, Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1978, p. 145
Nenhum comentário:
Postar um comentário