Gabriel Soares destaca a sagacidade dos índios do século XVI “engenhosos para tomarem quanto lhes ensinam os brancos [...] para carpinteiros de machado, serradores, oleiros, carreiros e para todos os ofícios de engenho de açúcar tem grande destino” exceto aqueles exercícios que exigiam de raciocínio e abstração.[1] Ao descrever os Tupinambás os descreve como “homens de grandes forças e de muito trabalho: são muito belicosos, em sua maneira esforçados e para muito, ainda que atraiçoados: são muito amigos de novidades e demasiadamente luxuriosos, e grandes caçadores e pescadores e amigos de lavouras”.[2] Joseph Hoffner observa que em diversos idiomas indígenas o termo correspondente a “trabalhar” é formado por uma raiz idêntica ao verbo “morrer”.[3] O francês Jean Léry em História da viagem à terra do Brasil (1578) salienta entre os indígenas seu grande vigor físico abatendo árvores enormes a golpes de machado e transportando-os aos navios franceses sobre o dorso nu.[4] Em Singularidades da França Antártica, publicada em 1557, André Thévet descreve a coragem dos índios bem como sua hospitalidade. Tanto o calvinista Jean Léry como o franciscano André Thevet baseados em suas experiências na França Antártica ajudaram a consolidar o mito do “bom selvagem”. Sérgio Buarque de Holanda mostra em Visões do Paraíso como os mitos de Eden e da busca do Paraíso povoaram o imaginário de portugueses e espanhóis: “essa psicose do maravilhoso não se impunha só a singeleza e credulidade da gente popular. A ideia de que do outro lado do Mar Oceano se acharia, senão o verdadeiro Paraís terrestre, sem dúvida um símile em tudo digno dele, perseguia, com pequenas diferenças, a todos os espíritos”.[5] Lemos Brito observa que Portugal importou milhares de índios para trabalho escravo em Lisboa, podendo cada donatário exportar trinta índios por ano sem ter de pagar qualquer imposto, o que revela que Portugal na época não considerava os índios indolentes. [6] O jesuítas, por sua vez, acaba o mito do Paraíso. O padre Luis da Fonseca em “Informação da Província do Brasil” encarava os índios não como “bons selvagens” mas como integrantes de uma nova Babilônia: “É uma terra desleixada e remissa e algo melancólica e por esta causa os escravos e índiso trabalham pouco e os portugueses quase nada e tudo se leva em festas, convícios, cantares, etc e uns e outros são muito dados a vinhos e facilmente se tomam dele”.[7]
[1] FREYRE, Gilberto. Casa
Grande e Senzala, São Paulo:Global Ed., 2006, p. 214, 229; SOUZA, Gabriel
Soares. Tratado descritivo do Brasil, Rio de Janeiro : Typographia Universal de
Laemmert, 1851, p.321; BRITO, José Gabriel Lemos. Pontos de partida para a história
econômica do Brasil. Brasiliana v. 155, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1980,
p.133
[2] SOUZA, Gabriel Soares.
Tratado descritivo do Brasil, Rio de Janeiro : Typographia Universal de
Laemmert, 1851, p.307 http://www.brasiliana.usp.br/handle/1918/01720400#page/1/mode/1up
[3] HOFFNER, Joseph.
Colonialismo e evangelho, São Paulo:USP, 1973, p.173
[4] FREYRE, Gilberto. Casa
Grande e Senzala, São Paulo:Global Ed., 2006, p. 229
[5] HOLANDA, Sérgio Buarque de. Visões do Paraíso. São Paulo: Brasiliense, 2000, p.221
[6] BRITO, José Gabriel
Lemos. Pontos de partida para a história econômica do Brasil. Brasiliana v.
155, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1980, p.138
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