Uma iluminura da Bíblia datada do século XIII mostra um jovem pedreiro
com seu carrinho de mão.[1] Bertrand
Gille[2] observa
a referência a uma manivela no Saltério de Utrecht do século IX e no manuscrito
de Herrade de Landsberg do século XII. Mestre Francke em pintura a óleo de 1424
sobre a crucifixão de Jesus mostra no detalhe de um cesto carregado por um dos
homens que acompanha o Cristo na subida do Calvário a presença de um
virabrequim. Lynn White observa que a manivela era desconhecida de gregos e
romanos.[3] Alexander Koyré destaca que tais inventos não foram resultado de qualquer
desenvolvimento científico mas de seu interesse prático[4]. Jean
Delumeau destaca o jogo dianteiro móvel nos veículos de tração animal, a biela
manivela capaz de converter o movimento retilíneo de vaivém em um movimento
circular contínuo, e o alto forno como três invenções de destaque no final do
séulo XIV. Segundo Robert Delort: “o progresso
técnico, bastante lento no início da idade Média que adota as inovações
germânicas ms se esquece dos processos antigos, se acelera a partir do século
XI e sobretudo do século XIII”.[5] A
manivela é descrita pela primeira vez no Saltério de Utrecht no século IX como
um meio de tornear uma pedra de mó.
Bertrand Gille observa que ainda que o movimento biela manivela fosse conhecido no fim do século XV e de implementação bastante simples para máquinas pequenas, ainda assim o que se observa é que seu uso demorou muito para se difundir. Frances Gies também aponta a lenta difusão da manivela que esteja sujeita a diferentes reinvenções independentes.[6] Na roca, por exemplo, a biela de madeira tinha um orifício onde se enfiava o braço da manivela, que era de ferro e se ligava ao pedal por um cordel. A roda grande da roca funcionava como volante. Entretanto, todas as representações do século XVI mostram rocas manuais e não com pedais. A primeira representação de roca com pedal aparece apenas com o rei da França Luís XIII em 1610 no Museu de Artes e Ofícios. Da mesma forma o mecanismo de biela manivela também foi introduzido lentamente nos tornos. A grande maioria dos tornos que aparece na Enciclopédia de Didert usam soluções alternativas. O mais antigo torno de pedal se encontra no Museu dos Cervejeiros de Anvers referente a um torno de perfuração datado da segunda metade do século XVI. Bertrand Gille conclui: “Os poucos fatos que pudemos reunir mostram o quão obstinadamente a humanidade procurou resolver um problema cuja solução nos parece tão simples. Foram precisos não apenas séculos para chegar ao resultado, mas mais séculos ainda para ver disseminado esse sistema que era, no entanto, tão simples de adaptar a um grande número de usos”.[7]
[1] FRUGONI, Chiara. Invenções
da Idade Média, Rio de Janeiro:Zahar, 2007, p. 129
[2] GILLE, Bertrand. O
nascimento do sistema biela manivela. In: GAMA, Ruy. História da técnica e da
tecnologia, São Paulo:Edusp, 1985, p. 172
[3] WHITE, Lynn. Tecnologia
e invenções na Idade Média. In: GAMA, Ruy. História da técnica e da tecnologia,
São Paulo:Edusp, 1985, p. 95
[4] KOYRE, Alexandre.
Estudos de história do pensamento científico. Brasília:Forense,1982, p.68
[5] DELORT, Robert. La vie
au moyen age, Lausanne:Edita, 1982, p.28
[6] GIES, Frances & Joseph. Cathedral, forge and
waterwheel, New York: Harper Collins, 1994, p. 66
Nenhum comentário:
Postar um comentário