A Academia Real Militar foi criada em 1810 e a partir de 1839 passou a se chamar Escola Militar e em 1858 Escola Central[1] da qual seriam formados positivistas como Miguel Lemos entre outros e onde seriam realizadas as Exposições Nacionais. Com a reformulação de 1859 o ensino de engenharia ficou com a Escola Central que em 1874 seria transformada em Escola Politécnica[2], com isso houve o esvaziamento progressivo das tendências militares da Escola Central e uma concentração de interesses do Exército na Escola da Praia Vermelha. A Escola Central foi o palco institucional de um debate entre ciência pura e ciência aplicada além de foco de irradiação das ideias positivistas, do que propriamente um centro de estudo de disciplinas militares.[3] Leonardo Trevisan mostra que no Brasil colônia não havia interesse em Portugal em estabelecer um ensino militar que pudesse representar um risco para a metrópole. Nesse sentido segundo Jehovah Motta a Academia Real Militar “nasceu com um aspecto muito pouco militarizado” em que o ensino se concentrava muito mais nas matérias relativas à engenharia. Leonardo Trevisan aponta esta divisão como a origem da questão militar que se manifestaria no final do Império: “De fato, isolados da velha Escola do Largo de São Francisco, transformada em Escola Politécnica em 1874, lugar exclusivo para paisanos, os futuros oficiais deveriam assimilar na Escola da Praia Vermelha exclusivamente <as coisas de guerra>, porém, quando já estivessem formados, não poderiam, sob pena de indisciplina, nem mesmo discutir o desempenho da tropa com o comandante. Tal distorção, entre a eficiência procurada na Escola, e, de certa forma, desprezada ao longo da carreira, criaria graves resultados. Muito da sequência denominada Questão Militar nasceu dessa distorção sem dúvida alguma”.[4] Uma reforma em 1823 permitiu a matrícula na Real Academia Militar de alunos civis, sem qualquer vínculo com a carreira militar e que ficaram conhecidos como “paisanos” e que ao final do curso recebiam o diploma de engenheiro civil. Esta medida foi adotada especialmente porque logo após a Independência os alunos brasileiros não puderam de matricular na Universidade de Coimbra.[5]
[1]TELLES, Pedro Carlos da
Silva. História da Engenharia no Brasil: séculos XVI a XIX, Rio de
Janeiro:Clube de Engenharia, 1994, p.106; FÁVERO, Maria de Lourdes.
Universidade do Brasil das origens à construção. Rio de Janeiro:UFRJ, 2000,
p.44
[2] TELLES, Pedro Carlos da
Silva. História da Engenharia no Brasil: séculos XVI a XIX, Rio de
Janeiro:Clube de Engenharia, 1994, p.467
[3] FERREIRA, Luiz Otavio.
O ethos positivista e a institucionalização das ciências no Brasil. In: LIMA,
Nisia Trindade; SÁ, Dominichi Miranda. Antropologia Brasiliana: Ciência e
educação da obra de Edgard Roquette-Pinto, Belo Horizonte: Editora UFMG/Rio de
Janeiro: Editora Fiocruz; 2008; CARVALHO, José Murilo. As forças armadas na primeira
República: o poder desestabilizador. In: FAUSTO, Boris. O Brasil Republicano,
v.III, tomo 2. Sociedade e Instituições (1889-1930), São Paulo:DIFEL, 1985, p.
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