quarta-feira, 28 de abril de 2021

Irmandades religiosas

 

Na metrópole, as irmandades religiosas cumpriam em primeiro lugar o papel religioso de reunir fieis em torno da devoção de um santo e do exercício das virtudes teologais de fé, caridade e esperança, e em segundo lugar de se constituir em uma organização beneficente de auxílio mútuo. Marcos Magalhães de Aguiar ao estudas as irmandades negras e mulatas em Viola Rica do século XVIII constata que tanto serviam como meio de integração como de exclusão com relação aos africanos.[1] Stuart Schwartz mostra as Irmandades como a Ordem Terceira de São Francisco e a Ordem Terceira do Carmo constituíam uma das principais fontes de crédito na colônia ao emprestarem dinheiro a juros.[2] Jorge Souza mostra que o capitão Pero de Lima devia 400 contos ao mosteiro dos beneditinos de Salvador. No Rio de Janeiro o mosteiro de São bento mantinha créditos de mais de mil e quatros contos com a elite da capital como o general Salvador Correia de Sá [3]. No século XVII a maior parte dos empréstimos realizados na Bahia eram concedidos pela Santa Casa de Misericórdia de Salvador.[4] Jorge Caldeira aponta o papel das Irmandades no fomento da economia local.[5] Em seu estudo das corporações de ofícios no Rio de Janeiro de 1820 a 1850 Eulália Lobo mostra que “As irmandades e as corporações desempenhavam importante papel mesmo depois do fechamento oficial das corporações, em 1824. As irmandades funcionavam como bancos, defendiam os interesses das corporações”. Para custear as procissões no Rio de Janeiro todos os mestres com loja aberta teriam de pagar uma taxa e caso se recusassem teriam suas lojas fechadas.[6] Mesmo depois do fechamento oficial das corporações, as irmandades continuaram desempenhando importante papel.[7] Leandro Malavota, contudo, observa que tais corporações não tinham o poder de impor barreiras de entrada no mercado a agentes fora da corporação.[8]

[1] RUSSELL WOOD, A. Histórias do Atlântico português, São Paulo: UNESP, 2021, p. 262

[2] SCHWARTZ, Stuart. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial. São Paulo: Cia das Letras, 1988, p. 180; CALDEIRA, Jorge. História da Riqueza no Brasil, Rio de Janeiro:Estação Brasil, 2017, p.107

[3] SOUZA, Jorge Vitor. Para além do claustro: uma história social da inserção beneditina na américa portuguesa, 1580-1690, Rio de Janeorp, UFF, 2014, p. 203

[4] FRAGOSO, João; FLORENTINO, Manolo; FARIA, Sheila de Castro. A economia colonial brasileira (séculos XVI-XIX), São Paulo:Atual Editora, 1998, p.42

[5] CALDEIRA, Jorge. A nação mercantilista, São Paulo:Ed. 34, 1999, p. 154

[6] LIMA, Heitor Ferreira, Formação Industrial do Brasil, período colonial, Rio de Janeiro: ED. Fundo de Cultura, 1961, p. 253

[7] MARTINS, Mônica de Souza Nunes. Entre a cruz e o capital: mestres, aprendizes e corporações de ofícios no Rio de Janeiro (1808-1824). Tese de Doutorado. Curso de Pós-Graduação em História Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Orientador: José Murilo de Carvalho, Rio de Janeiro, 2007, p.56 http://livros01.livrosgratis.com.br/cp057043.pdf

[8] MALAVOTA,Leandro Miranda. A construção do sistema de patentes no Brasil: um olhar histórico, Rio de Janeiro:Lumen Juris, 2011, p. 113



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